terça-feira, 30 de julho de 2013

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Biomas Caatinga e Cerrado próximos de serem reconhecidos como patrimônio nacional.



Votação da PEC da Caatinga e do Cerrado adiada para Agosto
Após dez anos de tramitação no Congresso Nacional e tendo seu texto original já aprovado no Senado desde 2010, o Projeto de Emenda Constitucional denominada de PEC 504, que altera o § 4º do art. 225 da Constituição Federal, incluindo o Bioma Caatinga e o Bioma Cerrado entre os biomas considerados patrimônio nacional, já tem parecer favorável pela aprovação pronto para ser votada na Comissão de Legislação e Justiça, a CCJ da Câmara Federal. 

A PEC 504 chegou a ser colocada em pauta na CCJ nesta terça-feira, dia 16/07, mas sua votação nesta Comissão acabou sendo adida para a primeira quinzena de agosto. Esta PEC, após a sua provável aprovação na CCJ, por ser uma proposição sujeita à apreciação do Plenário, deverá ainda ser votada pelo conjunto dos Deputados da Câmara Federal, em duas sessões consecutivas no Plenário desta Casa Legislativa, para a sua aprovação final. Apesar disso, a previsão é que ela possa ser votada ainda em 2013. 

Texto: Mauricio Laxe – Publicação do Blog EcosBrasil – 16/07/2013
Para conhecer a PEC-504 acessar:
 http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=483817

No Semiárido, cisternas de cimento ou cisternas de plástico dividem opiniões.

Publicado em julho 30, 2013 por


 
cisterna de cimento
 
Cisternas de cimento ou cisternas de plástico? Esse é um debate que ganha calor no quente Semiárido nordestino e foi disparado em Brasília. O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) apoia os reservatórios de água construídos a partir de placas de cimento, tecnologia que tem intimidade com a região. O Ministério da Integração Nacional (MI), que chegou mais tarde no esforço de universalizar o acesso à água de qualidade para os moradores das zonas rurais, distribui cisternas de polietileno. Batizadas de “cisternas de plástico”, a opção da Integração Nacional tem que vencer as críticas das entidades sociais que atuam no Semiárido, a desconfiança da população e o calor nordestino. Reportagem de Daniela Chiaretti , no Valor Econômico, socializada pelo ClippingMP.
Os dois tipos de reservatórios captam água da chuva e têm capacidade para estocar até 16 mil litros, o suficiente para atender às necessidades de uma família de cinco pessoas durante seis meses de estiagem. Essa água é usada para beber água, escovar os dentes e cozinhar – o que na região se chama de “primeira água”.
A cisterna de placas custa R$ 2.400 e é construída com mão de obra local. A de plástico custa R$ 5.000, computando-se instalação. As duas opções, ao lado de outros tipos de tecnologias para reservar água para a produção e animais, fazem parte, desde 2011, do programa Água para Todos, coordenado pelo Ministério da Integração Nacional. A meta é beneficiar 750 mil famílias até 2014.
“Esse é um debate muito apaixonado”, reconhece Arnoldo de Campos, secretário de Segurança Alimentar e Nutricional do MDS. “Entendemos que há várias formas de fazer este trabalho, que não existe caminho único.” O MDS trilha há vários anos o caminho desenhado pelas entidades sociais, de construir cisternas de placas de cimento, capacitando agricultores familiares no processo e movimentando a economia local ao comprar materiais na região.
“O MDS têm uma relação com as entidades sociais desde o nascimento. Essa solução estava desenvolvida e resolvemos adotá-la”, explica. Ele refuta a ideia de que as cisternas de polietileno são alternativa ruim e deformam com o calor. “Existem em todos os condomínios de luxo do país”, diz.
Com o reservatório de cimento, o agricultor José Maria da Costa não precisa mais do jumento para buscar água
“A opção pela cisterna de polietileno foi para agilizar o processo”, afirma Walber Santana Santos, diretor de gestão de programas de desenvolvimento regional do MI. “É usada em países com Semiárido mais agressivo do que o nosso.” O ministério já tem as 300 mil cisternas de polietileno contratadas e até agora, diz Santos, apenas 160 apresentaram defeitos. “O polietileno é resistente e a cisterna é feita para esse clima. Não derrete, não contamina a água e pode durar 30 anos”, diz. “Não é uma tecnologia que veio competir com a outra, são complementares.”
Essa não é a visão de Naidison Baptista, coordenador-executivo da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) pelo Estado da Bahia, para quem a concentração de terra no Semiárido está intimamente ligada à concentração de água. A ASA é uma rede formada por 3.000 organizações da sociedade civil que atuam na região e foi o pivô da sugestão do programa de construção de um milhão de cisternas.
Baptista não gosta da expressão “combate à seca”, lembra que se trata de fenômeno natural e que é mais adequado pensar em “conviver com o Semiárido”. Não é semântica. “Políticas de combate à seca geram dependência. Na ASA buscamos outra lógica.” Para ele, a diferença entre cisterna de placa e de plástico vai além do material – as primeiras são um processo; as de polietileno, uma doação, diz. “Políticas assistencialistas, em vez de libertar, acorrentam a população.” Acredita que é preciso desenvolver “a política do estoque” para água, mantimentos, sementes. “Quem guarda usa no momento de mais necessidade.”
No governo federal existem R$ 4,5 bilhões para a execução do programa. Desse total, R$ 2,6 bilhões correspondem à Integração e R$ 1,9 bilhão ao Desenvolvimento Social. Está em curso nova geração de tecnologias de “convivência com o Semiárido”, com foco na produção e nos animais. Nessa nova fase há forte apoio da Petrobras, que está investindo R$ 200 milhões em tecnologias de armazenagem de água para produção de alimentos e para os animais.
A segunda geração de tecnologias de cisternas chega para quem já tem a da água de beber. Uma delas é a cisterna-calçadão. Constrói-se um calçadão de cimento de 200 m2 em área de declive. Assim, 300 mm de chuva enchem o reservatório de 52 mil litros.
“Eu me criei aqui. Era uma casa de barro”, conta Maria Nogueira, 80 anos. “Meu pai fez a casa em 1947. Água era só no açude. Buscava numa latinha, na cabeça. Hoje temos água encanada em casa.” Maria é moradora de Caiana, comunidade de 80 famílias, zona rural de Campo Grande. O município fica a 130 quilômetros de Mossoró, cidade do Rio Grande do Norte que ganhou fama como o lugar que mais produz petróleo em terra no país. Mas em Campo Grande a história é outra. É entrar na zona rural e ver casas de taipa, o barro armado na madeira.
Maria tem uma cisterna-calçadão no terreno onde vive com o filho Antonio. Plantam feijão, milho e sorgo. “Vou fazer mais plantio”, promete. Também têm algumas cabeças de gado e ovelhas. “Se não tivesse as cisternas, não sobrevivia”, diz Antonio.
A dona de casa Iolene dos Santos, de Surubim-PE, tem água para cozinhar e beber, mas a cisterna nova já precisa de reparos
Na casa do agricultor José Maria da Costa, 55 anos, além da cisterna de placa há a barraginha. É uma pequena barragem, com água suficiente para aguentar 4 meses de seca e dar de beber aos animais e regar a plantação de milho, feijão e melancia. Ali ele vive com a mulher Expedita e cinco filhos. “A gente tinha que buscar água de jumento, era difícil”, lembra Expedita, que deixou o jumento “pro meio do mundo”. Ela agora tem água e tempo. Começou a fazer doces de goiaba. Faz 40 quilos por mês e ganha R$ 1 mil. “Comecei este ano”, diz. Com o dinheiro, comprou a mesa e as cadeiras da cozinha.
Na zona rural de Campo Grande não há quem não fale da chuva de 19 de abril. Naquela sexta-feira à noite, durante 13 horas, choveu 150 mm. Foi uma das dez maiores precipitações em 110 anos. “Em uma noite encheu a cisterna”, lembra a agricultora Damiana Fernandes da Silva. “E tem gente que perdeu, que não botou a calha.” Cisterna e calha são palavras vitais para quem vive por ali.
Caiena é área humilde, mas as coisas estão mudando por lá e essas espécies de mini-espaçonaves caiadas de branco ao lado de cada casa têm sua parcela de responsabilidade. Todas as famílias da comunidade rural têm sua cisterna de placa. O funcionamento é simples. A primeira chuva que vem depois da estiagem lava as telhas. Os agricultores recolocam as calhas e os canos de PVC, retirados durante os meses de seca para que não estraguem. Começam a estocar água depois da segunda chuva. Retiram a água através de uma pequena bomba manual. Cursos de gestão ensinam os agricultores a cuidar da água, fazer reparos e construir cisternas.
Na pior seca dos últimos 50 anos, não houve êxodo rural, saques ou corre-corre de carro-pipa. “É política social na veia”, diz a economista Tania Bacelar de Araújo, que cita a aposentadoria garantida pela Constituição Federal e o Bolsa Família. “Veio a seca, mas não tem mais fome aguda. Ninguém precisou sair da região ou saquear o supermercado. Agora podem comprar”, diz a professora do programa de pós-graduação em geografia da Universidade Federal de Pernambuco. “O problema agora foi que faltou água para produzir e para os animais.”
A jornalista viajou ao Semiárido a convite da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA)
EcoDebate, 30/07/2013
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COMENTÁRIOS
João Suassuna -Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Recife
Não sou adepto ao uso da cisterna de plástico no Semiárido nordestino. Independentemente das críticas que são feitas a esse tipo de reservatório, como o preço elevado, sabor desagradável transferido para a água, danos causados pela temperatura ambiente, entre outros, o que me deixa mais perplexo diz respeito ao transporte da cisterna para o interior do Nordeste seco. Normalmente, esse transporte é feito por intermédio de caminhões (carretas) que têm capacidade de deslocar cerca de 22 toneladas. Ocorre que o formato das cisterna de plástico - elas são detentoras de uma espécie de gargalo - impossibilita o transporte de um número razoável de cisternas por viagem do caminhão, o qual, para esse tipo de reservatório, só permite o transporte de 5 unidades por viagem. Uma cisterna de plástico, pesa em torno de 300 kg, ou seja, um caminhão, que tem a capacidade de transportar 22 toneladas, irá fazê-lo com apenas 1,5 toneladas (equivalentes ao transporte de 5 cisternas) e nada mais. Na verdade, estar-se transportando "ar" nas 5 cisternas. Quem vive do frete, se delicia com esse tipo de conversa, ao fazer os cálculos de transporte dos reservatórios previstos pelo Programa "Um Milhão de Cisternas" do Governo Federal.


Ricardo Ramalho - Movimento Minha Terra
João Suasuna
São muito pertinentes suas observações sobre mais esse ponto negativo da opção pelas cisternas de plástico. O transporte, dessa forma, se transforma em um custo, sobretudo, ambiental relevante pela ineficiência do modelo adotado.
Quanto ao sabor desagradável necessitamos de dados técnicos mais precisos para acrescentarmos esse item ao rol de aspectos negativos das cisternas de plástico.
Outra questão que necessita ser investigada, cientificamente, é a possibilidade de geração de resíduos prejudiciais à saúde humana quando a água armazenada é submetida às altas temperaturas do semiárido nordestino. Não podemos fazer afirmações irresponsáveis, mas, existem indicações de que essa "mistura" pode produzir dioxinas e outras substâncias nocivas à nossa saúde em situações "semelhantes" como nos fornos microndas. Portanto, quando se trata de saúde das pessoas toda precaução deve ser adotada e os questionamentos respondidos, principalmente, por aqueles que aplicam a tecnologia.
 
Ecossaudações
 
Ricardo Ramalho
Movimento Minha Terra
ricardoaldeiaverde@uol.com.br

domingo, 28 de julho de 2013

Agreste pernambucano terá a maior adutora da América Latina.

Nesta terça-feira (04), às 15h, o governador Eduardo Campos assina a ordem de serviço para início das obras da primeira etapa da Adutora do Agreste, um dos maiores sistemas de abastecimento de água integrados do Mundo e o maior do Brasil e da América Latina, segundo o governo do estado. Ao todo, serão 1,3 mil quilômetros de tubulações, atendendo a 68 municípios e 80 distritos e povoados no trajeto da água, saindo do distrito de Ipojuca, em Arcoverde, até o município de Gravatá. A expectativa é que a iniciativa beneficie dois milhões de pessoas.


A assinatura acontece  durante a cerimônia de instalação da I Conferência Estadual de Políticas Públicas para a Convivência com o Semiárido, no Hotel Estação Cruzeiro, em Pesqueira. A adutora irá transportar água do Rio São Francisco por meio do Eixo Leste do Ramal do Agreste, um braço do projeto da Transposição, que também será construído pelo Governo de Pernambuco, através da Compesa. 
 
O Sistema Integrado da Adutora do Agreste será executado em três etapas, com investimentos previstos de R$ 2,3 bilhões, provenientes de recursos dos governos federal e estadual, além da própria Compesa. O sistema adutor do Agreste vai tratar e distribuir 4 mil litros de água por segundo.

Com informações do governo do estado
COMENTÁRIOS
João Suassuna - Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco

O Estado de Pernambuco possui 500 km de fronteira molhada com o rio São Francisco. O Estado tem experiências exitosas de abastecimento de populações, por intermédio de sistemas de adução (uso de tubulações), a exemplo da Adutora do Oeste, que abastece o município de Araripina e regiões vizinhas, e da Adutora de Salgueiro, ambas retirando as águas do rio São Francisco. A Adutora do Agreste, poderia, também, ter sido projetada obedecendo o mesmo princípio de transporte de água: por adução, com ponto de origem no São Francisco. Mas a sua origem será no Eixo Leste da Transposição, próxima ao município de Arcoverde, em cujo trajeto haverá uma enorme evaporação, juntamente com todas as mazelas peculiares ao projeto da transposição, as quais estamos denunciando há 18 anos.




por João SuassunaÚltima modificação 23/07/2013 16:14

Diáspora da seca redesenha o Brasil

Levas de retirantes em fuga da estiagem, por conta própria ou por indução dos governos, deram nova configuração à geopolítica nacional - Por Mauri König, Jornalista do Gazeta do Povo, Curitiba PR


Assistam ao vídeo AQUI
 
Alexandre Mazzo
Alexandre Mazzo / Abandono do Semiárido começou há dois séculos, na época do Império. Nordestinos fugiam para o Sudeste ou eram levados para desbravar outras regiões do país Abandono do Semiárido começou há dois séculos, na época do Império. Nordestinos fugiam para o Sudeste ou eram levados para desbravar outras regiões do país
 
A seca, realidade sempre presente no Semiárido brasileiro, tem como consequên­cias diretas a fome, a desnutrição, a miséria, a morte, o êxodo rural. Toda essa tragédia, em boa medida, forjou uma nova geopolítica nacional com base em uma diáspora imposta pela intolerância da seca. A despeito das glórias do passado, do seu papel na construção do país, o Nordeste de hoje se tornou um bode expiatório para aqueles que discursam sobre o desperdício do dinheiro público na sua recuperação. Mas é preciso pôr na balança o que o Nordeste já fez.
O Nordeste foi a região mais rica e povoada do território brasileiro nos três séculos seguintes ao Descobrimento. Centro da produção açucareira até o fim do século 19, a queda dos preços do açúcar e do algodão fez a economia estagnar. Embora a água fosse escassa, antes a terra vasta e plana fez do sertão grande produtor de gado, levando carne e couro para toda a Colônia no século 17. A seca, sempre presente, foi agravada pela ocupação irregular do solo e a devastação da natureza. Desde o Brasil Colônia nunca houve políticas públicas para a região.
A seca de 1791 a 1793 tornou a vida mais difícil. A vegetação não se recuperou. A seca de 1877 a 1880 piorou o cenário, e se criou o conceito de retirante, o sertanejo que deixa sua terra para escapar dos efeitos da estiagem. Pela primeira vez o governo tentou uma política de salvação para o sertão: dom Pedro II importou camelos do Saara. Porém, as raízes do problema eram mais profundas. Em número quase quatro vezes maior do que a população de Fortaleza, os proscritos da seca ocuparam a capital do Ceará. O resultado foram epidemias, fome, saques e crimes.
Evasão em massa
À época começaram os primeiros movimentos migratórios significativos. O Ceará tinha 800 mil habitantes, dos quais 120 mil emigraram para a Amazônia e 68 mil se dirigiram a outros estados. Outra grande seca assolou a região em 1915. Para evitar nova invasão a Fortaleza, os governos estadual e federal criaram campos de concentração na periferia das grandes cidades para recolher os flagelados. Nova seca catastrófica em 1932, e outra vez foram sete os campos de concentração no Ceará, encarcerando 105 mil retirantes, recrutados para trabalhar de forma compulsória nas obras públicas.
Nas secas seguintes, os governos desistiram dos campos de concentração e começaram a estimular o sertanejo a abandonar suas terras. Passaram a planejar a migração maciça para o Oeste, de forma a povoar os sertões do Mato Grosso, num movimento migratório conhecido como Marcha para o Oeste.
Até o século 19, cinco entre dez brasileiros viviam no Nordeste, proporção que caiu para quatro entre dez no início da década de 1990, embora ali a taxa de natalidade seja maior do que no restante do país. O Censo de 1950 verificou que mais de 2 milhões de nordestinos haviam migrado para outras regiões do país. Entre 1950 e 1980, as grandes metrópoles do Sudeste tornaram-se o destino da maioria dos retirantes. Hoje, 12% da população da cidade de São Paulo é composta por migrantes nordestinos.
Conviver com a seca, a palavra de ordem
Não se pode combater a seca porque, como fenômeno natural, ela sempre se repete. O que se pode fazer é conviver com as condições climáticas. “Essa é a palavra, convivência”, diz o agrônomo e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco João Suassuna. Tecnologia existe, mas nada aproveitada. Suassuna indica duas alter­­nativas mais prudentes como alternativa econômica para o Semiárido.
A primeira, criar gado adap­­tado à condição de seca. A Paraíba está tendo bons resultados com bois das raças guzerá e sindi, oriundas dos desertos da Índia e do Paquistão. Em grande escala, pode-se repetir o sucesso dos caprinos e ovinos, que se adaptaram bem ao clima do Nordeste desde sua chegada à época da colonização. O alimento para os rebanhos pode vir da segunda alternativa: plantas adaptadas ao meio para servir de forragem.
Há uma tecnologia de plantio adensado de palma, com alto ganho de produtividade. O bioma caatinga tem plantas que ao longo das eras se adaptaram à aridez, desenvolvendo meios de reserva de água para os períodos secos. Na caatinga há plantas produtoras de látex, mel, fibra, energia (para queimar como lenha) e alimento para o gado.
“Temos de fazer um extrativismo sustentável das plantas que existentes no bioma”, diz Suassuna. Mas ele observa com pesar o desperdício desse potencial. “A tristeza é que sabemos que conhecemos pouco esse bioma e o estão destruindo”. No extremo de Pernambuco fica a maior mina de gipsita do mundo. Para extrair o gesso é preciso calcinar o mineral, queimá-lo em fornalhas. Para isso, estão usando a caatinga. “Está virando carvão, estão acabando com um bioma que pouco se conhece.”
A família de Josafá Pereira dos Santos, 47 anos, tenta se adaptar ao meio. Ao todo, 15 pessoas viajam de carroça três quilômetros todos os dias de Mirandiba até Angico Verde (PE) para trabalhar. Carregam água em baldes para irrigar os pés de feijão e macaxeira.
Tragédia brasileira
Intermitências da seca provocaram a morte de 3 milhões de nordestinos
A morte ronda diuturnamente o sertanejo no Semiárido, no lastro das secas que forjam a mais triste e previsível tragédia brasileira. Fustigado pelo desejo de quantificar as perdas humanas, o pesquisador Marco Antônio Villa contou os mortos nas principais estiagens ocorridas no Nordeste entre 1825 e 1985. Chegou a 3 milhões de vítimas, conforme narra em Vida e Morte no Sertão (Ática, 2000). Só a seca de 1877-1879, a mais terrível, dizimou 4% da população nordestina à época.
O saldo de mortos se deu, em grande medida, ao imobilismo das autoridades públicas, numa demonstração de negligência, violência, corrupção, manipulação e clientelismo. Villa reconstituiu o contexto e conjunturas para retratar os efeitos das secas sobre a economia regional, o fenômeno das migrações orientadas pelos governos, a indústria da seca, os saques perpetrados por retirantes desesperados, as epidemias, frentes de trabalho de caráter puramente assistencialistas.
Realidade ou ficção?
Vida do sertanejo em meio à aridez abasteceu a literatura nacional
Há realidades que, de tão inverossímeis, só a ficção para melhor explicá-las. A seca no Semiárido brasileiro, por exemplo, abasteceu a literatura mundial de grandes escritores. À literatura se incorporou a fase do ciclo das secas, tamanho o volume de romances que tinham como tema central a estiagem e a vida no sertão. José de Alencar (1876) inaugurou a série com a publicação O sertanejo, e o período se estendeu até a primeira década do século 20.
São três os personagens principais da literatura do ciclo das secas: o cangaceiro, o beato e o retirante. Nenhum livro desse período teve tanta influência quanto Os sertões, uma obra que mistura sociologia, literatura e reportagem de guerra, escrita por Euclides da Cunha. Numa clara admiração pelo sertanejo, o escritor buscou retratar sua resiliência com os rigores da natureza e carregou nas críticas ao governo federal pelo desprezo no tratamento dispensado a essa gente.
Outros escritores consagrados dedicaram seu talento literário a retratar a vida do sertanejo.


por João SuassunaÚltima modificação 24/07/2013 10:40

Aventura Selvagem em Cabaceiras - Paraíba

Rodrigo Castro, fundador da Associação Caatinga, da Asa Branca e da Aliança da Caatinga

Bioma Caatinga

Vale do Catimbau - Pernambuco

Tom da Caatinga

A Caatinga Nordestina

Rio São Francisco - Momento Brasil

O mundo da Caatinga