O crescimento da concentração de CO2 e as
mudanças climáticas.
Artigo de José Eustáquio Diniz Alves.
[EcoDebate] Em 2008, o
ambientalista Bill McKibben fundou a 350.org, um movimento internacional para
unir o mundo em torno de soluções para a crise climática. A ideia da 350.org é
estimular um conjunto de ações coordenadas que possa pressionar as autoridades
mundiais sobre a necessidade do comprometimento político com a redução da
emissão de gases de efeito estufa (GEE). A cifra 350 é uma referência a 350 ppm
(partes por milhão) de CO2. O número é considerado o limiar de segurança para a
quantidade de dióxido de carbono na atmosfera, um índice capaz de evitar uma
mudança climática galopante.
Publicado em março 13, 2013 por HC
http://www.ecodebate.com.br/2013/03/13/o-crescimento-da-concentracao-de-co2-e-as-mudancas-climaticas-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
As Conferências Internacionais
sobre mudanças climáticas (as COPs) chegaram ao consenso de que 2o C
(dois graus centígrados) é o nível de aquecimento global considerado
“suportável”, segundo análises científicas. Para tanto, seria necessário
reduzir os níveis de emissão de GEE e reduzir a concentração de CO2
na atmosfera para 350 ppm.
Porém, não é isto que está acontecendo. Segundo a
National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), dos Estados
Unidos, os níveis de dióxido de carbono na atmosfera saltaram 2,67 partes por
milhão (ppm) em 2012, para o montante recorde de 395 ppm. O registro do ano
passado só ficou atrás do aumento de 2,93 ppm ocorrido em 1998. Tudo indica que
chegaremos a 400 ppm até 2015, o que é um número extremamente crítico.
O principal fator para o crescimento da
concentração de CO2 na biosfera foi o aumento do uso de combustíveis
fósseis, especialmente nos países em desenvolvimento, como a China e a Índia.
As queimadas na Amazônia também contribuíram. Desta forma, as perspectivas da 350.org
e as possibilidades de manter o aquecimento global abaixo de 2º C estão
desaparecendo.
Um trabalho publicado na revista Science
estimou a temperatura global no período geológico chamado de Holoceno, que teve
início há cerca de 11 mil anos. Neste período de estabilidade do clima a
população mundial passou de menos de 5 milhões de habitantes, no começo do Holoceno,
para 1 bilhão de habitantes por volta de 1800. Todavia, o impacto das
atividades antrópicas foi pequeno nestes milênios.
Segundo o estudo, a Terra passou por um período
de aquecimento que começou há cerca de 11 mil anos e durante 1,5 mil anos, o
planeta esquentou cerca de 0,6º C, para se estabilizar durante cerca de 5.000
anos. Todavia, 5,5 mil anos atrás, começou um novo processo de esfriamento, o
que ficou conhecido como a “pequena era do gelo”, quando o Planeta ficou 0,7º C
mais frio.
Contudo, as tendências se inverteram há 200 anos,
com o início da Revolução Industrial e Energética (uso de combustíveis
fósseis). O aumento da emissão de GEE fez o Planeta se esquentar nos últimos
200 anos, quando a população passou de 1 bilhão para mais de 7 bilhões de
habitantes e a economia cresceu cerca de 90 vezes neste período. Por conta
disto, já existem cientistas dizendo que começamos uma nova era geológica,
chamada de Antropoceno, ou seja, uma época em que o ser humano passou a influir
na composição química da atmosfera e dos oceanos, consequentemente, alterando o
equilíbrio dos ecossistemas da Terra.
Há muitas incertezas sobre a magnitude das
projeções das mudanças climáticas. De qualquer forma, se nada for feito e se as
COPs (Conferências das Partes) não chegarem a um acordo viável, o aquecimento
global vai continuar nas próximas décadas, elevando a probabilidade de
atingiremos, até 2100, o período mais quente dos últimos 11 mil anos. As
consequências podem ser catastróficas. Segundo o princípio da precaução é
melhor prevenir do que remediar no futuro. As futuras gerações e a
biodiversidade não vão perdoar os erros e o egoísmo das gerações atuais.
Referências:
The Guardian. Large rise in CO2 emissions sounds climate change alarm, 08/03/2013
http://www.guardian.co.uk/environment/2013/mar/08/hawaii-climate-change-second-greatest-annual-rise-emissions
Joe Romm. Bombshell: Recent Warming Is ‘Amazing And Atypical’ And Poised To Destroy Stable Climate That Enabled Civilization, 8/03/2013
http://thinkprogress.org/climate/2013/03/08/1691411/bombshell-recent-warming-is-amazing-and-atypical-and-poised-to-destroy-stable-climate-that-made-civilization-possible/?mobile=nc
350.org
http://350.org/en/mission
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 13/03/2013
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