quinta-feira, 1 de abril de 2021

 Revitalização de Bacias: Presidente do CBHSF não concorda com flexibilização de vazão no rio São Francisco e diz que pode trazer impactos ambientais

https://cbhsaofrancisco.org.br/noticias/noticias/presidente-do-cbhsf-nao-concorda-com-flexibilizacao-de-vazao-no-rio-sao-francisco-e-diz-que-pode-trazer-impactos-ambientais/

CBHSF

28/03/2021

Descrição: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfT880MZk_jn2WC6HkvbFs5PQCiw6SL4JYvZTQneozbdQRaiXHyaK7yOQTvtaXWYBuKZpUGp1PJ7Eyd2f7VDmIHKrA44tMibAMnon6SfXxYlgGoJFczrUVxObhyphenhyphen86ffo06HSbwgBcTKcw/w400-h266/image.png

A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) realizou, na última quinta-feira (25), uma reunião extraordinária de acompanhamento das condições de operação do Sistema Hídrico do Rio São Francisco. A intenção foi discutir a solicitação de operação excepcional do reservatório da UHE Xingó apresentada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), conforme a Carta CTA-DGL 0398/2021. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) acompanhou a reunião.

Em suas considerações iniciais, o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Carlos Ciocchi, falou sobre a situação dos reservatórios nacionais e mencionou que o período úmido está encerrando pior do que no ano anterior. “Atravessamos um dos piores períodos hidrológicos que temos em nosso acompanhamento. O final do ano passado se caracterizou como o pior trimestre das médias históricas. Temos a preocupação de manter a operacionalidade, bem como a segurança de todo sistema elétrico brasileiro, e os reservatórios do rio São Francisco são importantíssimos para a nossa operação”, disse.

O presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda, opinou sobre a proposta apresentada pelo ONS sobre impactos relacionados à sugestão de redução da vazão no rio São Francisco. “O Comitê não se sente em condições de concordar com a proposta apresentada pelo ONS. Achamos que ela foi encaminhada de supetão e evidente que isso poderia ter sido discutido quando do processo da flexibilização de dezembro de 2020. O rio São Francisco abriu mão de uma cheia depois de anos de extrema situação de escassez, com prejuízos ao ecossistema que até hoje não foram avaliados em sua dimensão. Mas, em função das necessidades do Sistema Integrado houve um acordo no sentido de uma flexibilização em dezembro que de alguma forma já trouxe um impacto negativo sobre a resolução ANA-2081/2017, que demorou para entrar em prática. Não estou desconhecendo as necessidades do Sistema Interligado Nacional, entretanto ele não pode ser absolutamente hegemônico a ponto de você desconhecer que o rio é um ecossistema. Depois de todos esses anos de intensos impactos na vida aquática, quando nós imaginávamos que teríamos nesse ano passado a possibilidade de finalmente contar com reservatórios mais cheios, um volume enorme de águas se foi de repente e agora vem o reverso com essa proposta de continuar com vazões altamente restritivas. Vamos nos debruçar sobre os números e devemos ouvir os participantes da Expedição Científica para que eles informem os impactos que esses processos de restrições de vazão podem trazer para o rio São Francisco. O Comitê não pode respaldar essa demanda, temos que encontrar outras soluções e avaliar detalhadamente o que vem acontecendo”, explicou.

O secretário executivo de Gestão Interna da Secretaria do Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Alagoas (SEMARH), Pedro Lucas, demonstrou compreensão com relação aos argumentos do ONS no seu pedido de redução do limite de vazão a jusante de Xingó de 1.100m3/s para 800m3/s, dada a baixa afluência no Sistema Interligado Nacional nos últimos seis meses. “Entretanto, Alagoas vê com certa preocupação essa redução de possibilidade de vazão porque praticamente metade do Estado é abastecido pelo rio São Francisco e essa redução pode comprometer as captações da CASAL”, afirmou.

O engenheiro Ailton Rocha, que é superintendente de Recursos Hídricos na Secretaria de Estado do Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade de Sergipe e coordena a Câmara Técnica de Articulação Institucional (CTAI) do CBHSF, pontuou que a apresentação do ONS foi bem elaborada, entretanto ele defende, em nome do estado de Sergipe, a manutenção da resolução ANA-2081/2017 em sua integralidade. “A menos que a partir dos dados que o ONS irá apresentar na próxima reunião dessa projeção do volume de Sobradinho no final período seco. Também reforço a importância de chamar para participar da videoconferência o coordenador da Expedição Científica, sugestão dada pelo Anivaldo Miranda. Precisamos ouvir o Emerson Soares e observar a apresentação dele com relação aos impactos ambientais no baixo São Francisco. Com certeza, o que ele irá trazer dará uma ideia do que poderá ocorrer no ecossistema com essas baixas vazões. Precisamos compreender melhor o que pode trazer de impacto a diminuição das vazões. Ressalto que não podemos associar a crise somente à probabilidade, mas adicionar também a questão do dano ambiental. Esse dano ambiental precisa ser valorizado nessas tomadas de decisões”.

A professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e membro do CBHSF, Yvonilde Medeiros, demonstrou grande preocupação com a possível diminuição da vazão no rio São Francisco. “É um retrocesso o que está acontecendo. Estamos voltando ao tempo de obscurantismo ambiental e nós necessitamos agir. Precisamos levar em consideração o dano e a vulnerabilidade do ecossistema. Não existe água sobrando, pois estamos tratando de um rio. Eu pesquiso e trabalho com números e sei exatamente que o problema não é que essa vazão de 800m³/s é uma vazão aceitável – em que mês? Em que período do ano? – Nós temos uma sazonalidade e discutimos isso o tempo todo! Estamos destruindo a sazonalidade e com isso o ecossistema, é um número, é uma estatística. Iremos ver o impacto do que estamos fazendo hoje quando os peixes chegarem à maturidade e não se reproduzirem”, disse.

Proposta de flexibilização de vazão

Os representantes do ONS, Vinícius Rocha e Luana Gomes, apresentaram as condições hidrológicas e armazenamento observadas, as medidas operativas implementadas, bem como as perspectivas para abril e maio, além de uma proposta de flexibilização da vazão mínima de Xingó. Após a apresentação dos gráficos, Vinícius Rocha informou que as condições hidrológicas previstas para os próximos meses em relação às bacias dos subsistemas Sudeste/Centro-Oeste e Nordeste devem ser mantidas como desfavoráveis. “Apesar das condições hidrológicas desfavoráveis para a Bacia do Rio São Francisco nos próximos meses, espera-se que o armazenamento do reservatório de Sobradinho esteja na faixa de operação normal nos meses de abril e maio de 2021. Nos períodos de carga leve e média, nos meses de abril e maio de 2021, é esperada a ocorrência de vertimentos turbináveis nas usinas hidroelétricas de Tucuruí e Belo Monte não transmissíveis para os subsistemas Sudeste e Centro-Oeste. A geração/transmissão dessas usinas é concorrente com a geração/transmissão das usinas do rio São Francisco. A flexibilização vazão mínima da UHE Xingó, permitiria aumentar o armazenamento dos reservatórios da Bacia do Rio São Francisco, aproveitar o excedente hidráulico do Norte e reduzir os vertimentos turbináveis de Tucuruí e Belo Monte, de forma a otimizar o uso dos recursos hídricos e proporcionar melhores condições de operação no período seco de 2021”.

Foi destacado que, para os meses seguintes do período seco, deve-se avaliar a viabilidade de continuidade da flexibilização da vazão mínima da UHE Xingó, a fim de aproveitar eventuais excedentes energéticos que possam ainda existir de forma a proporcionar melhores condições de armazenamento na bacia do rio São Francisco. Salienta-se que, na faixa de operação normal, a UHE Xingó tem uma vazão mínima defluente de 1.100 m3/s. Em se tratando da possível medida de flexibilização da defluência mínima em Xingó estima-se um ganho de armazenamento no reservatório da UHE Sobradinho de cerca de 5,4% ao final de maio praticando-se a redução de 1.100m³/s para 800m³/s.

A próxima reunião extraordinária ocorrerá na segunda-feira (29) de março, às 15h, com novas apresentações de outros convidados, aprofundamento e debates das pautas para tratar da proposta do ONS e do Sistema Hídrico do Rio São Francisco com relação a redução de vazão na UHE Xingó. A reunião mensal está mantida e acontecerá no dia 06 de abril, às 10h. Esta videoconferência que avalia as condições hidrológicas da bacia do Velho Chico ocorre na sede da Agência Nacional de Águas, em Brasília (DF) e é transmitida para os estados da bacia. Desta reunião participam o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), usuários, governo, irrigantes, entre outros.

Para ter acesso a videoconferência na íntegra, acesse: https://www.youtube.com/watch?v=Pkb6CHo3irw

Assessoria de Comunicação CBHSF:
TantoExpresso Comunicação e Mobilização Social
*Texto: Deisy Nascimento
*Foto: Edson Oliveira

 

COMENTÁRIOS

João Suassuna – Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco

Em 2001, o ano do “apagão”, publiquei um artigo no portal da Fundação Joaquim Nabuco, intitulado “Racionamento: o preço da irresponsabilidade”. Nele, entre outros assuntos, comentei sobre a questão da interligação do sistema elétrico nacional. Naquela ocasião, o governo federal havia apostado todas as suas crenças, nas chuvas que terminaram por não cair. Abaixo transcrevo o que escrevi há 20 anos, quando tratei da questão da interligação do sistema de geração brasileiro:

“O governo, ao nosso modo de entender, cometeu dois erros graves: apostou na interligação do sistema elétrico brasileiro para o suprimento da energia necessária ao desenvolvimento do Nordeste, e na boa vontade de São Pedro em enviar chuvas suficientes para o abastecimento dos principais reservatórios responsáveis pela geração de energia do país. O que aconteceu, ao longo dos quatro últimos anos, foi uma situação já anunciada previamente: ocorreram secas sucessivas, não apenas aqui no Nordeste, mas em todo o país, e ficou evidente a incapacidade da interligação do sistema elétrico brasileiro em suprir a demanda energética das regiões, em especial a nordestina. Nesse sentido, o Brasil caminha para o apagão, recebendo críticas dos mais diversos setores da sociedade, não apenas pela falta de planejamento na área energética, mas, e principalmente, pela falta de investimentos nesse setor”.

Ao ler a matéria do CBHSF e ao me reportar ao que escrevi no ano de 2001, portanto a exatos 20 anos, percebo que o meu artigo ainda se encontra com suas informações bastante atualizadas. As secas, que antes ocorriam apenas na região Nordeste, passaram a existir, também, em todo território nacional.

Para se gerar energia em hidrelétricas, é condição fundamental a existência de volumes suficientes, nos reservatórios das usinas, para o atendimento de uma geração segura em suas turbinas. Com as secas que passaram a existir no Sudeste do país, isso agora começou a se tornar um problema, e a prova disso são os baixos volumes atualmente armazenados nos reservatórios das hidrelétricas da região, as mais importantes em termos de geração do país. Registos do dia 26/03 dão conta de que esses percentuais na faixa de 34,96%, com tendências a diminuírem, por conta das proximidades do final da quadra chuvosa naquela região. Por conta disso, as termelétricas tiveram que ser acionadas (as térmicas geram uma energia mais cara), e os brasileiros passaram a pagar mais caro pela energia consumida. A tarifa de consumo da energia elétrica dos brasileiros está sendo cobrada na modalidade “bandeira vermelha”.

A saída para esse impasse, seria na ampliação, aqui no Nordeste, dos investimentos em fontes de energias limpas, a exemplo da Solar e, principalmente, da Eólica. Para se ter uma ideia da importância disso, a potência eólica instalada no Nordeste, atualmente, já supera aquela conseguida pela Chesf em seu complexo de Hidrelétricas. A potência elétrica conseguida pela Chesf se estabilizou em 10 mil MW. Já a potência eólica instalada no Nordeste, já supera os 14 mil MW e em fase de ampliação.

Na minha opinião, O CBHSF tem toda razão em não concordar com a flexibilização de vazão no rio São Francisco, por trazer impactos ambientais. Isso fica muito claro ao serem analisadas as defluências da represa de Sobradinho nos últimos 40 anos. Quando Sobradinho foi inaugurada em 1979, a Chesf conseguiu uma vazão média diária, em sua defluência para o Submédio e Baixo São Francisco, de cerca de 2.060 m³/s. E a Companhia passou décadas gerando a energia do Nordeste com essa vazão defluida por Sobradinho. Naquela ocasião, o IBAMA havia determinado que se cumprisse, na foz do rio São Francisco, uma vazão mínima média diária, agora regularizada, de cerca de 1.300 m³/s, a chamada vazão ecológica. Com a existência de gestões hídricas ineficientes na bacia do rio, aliadas a ciclo de secas de grandes proporções (2012 a 2017), Sobradinho atingiu, no ano de 2017, 1 % de seu volume útil, obrigando a Chesf defluir da represa, apenas cerca de 550 m³/s, colocando em risco o que havia sido determinado pelo IBAMA, sobre os volumes mínimos que tinham que chegar, necessariamente, em sua foz. Ora, se Sobradinho estava defluindo cerca de 550 m³/s, um volume muito parecido a este era o que estava chegando na foz do rio, distantes, portanto, dos 1.300 m³/s exigidos pelo Órgão Ambiental, e com um agravante: com a construção de Sobradinho, as vazões do rio passaram a ser artificiais e dependentes de gestão eficiente na abertura e no fechamento de comportas. Além do mais, a solicitação do ONS, de flexibilizar as defluência de Xingó contraria as regras impostas desde o início de 2021 pela Resolução ANA 2081/2017 segundo a qual, para o período úmido, e estando o reservatório de Sobradinho acima de 60% de seu volume, a vazão mínima no Baixo São Francisco deve ser de 1.100 m³/s.

Dados recentes do dia 26/03, deram conta de uma defluência, em Sobradinho, da ordem de 940 m³/s e em Xingó de 800 m³/s . Essa é a verdadeira razão de a ANA estar preocupada e imbuída na discussão desses assuntos para a determinação da vazão mais adequada a ser defluida de Xingó, para o Baixo São Francisco. Só que a manutenção dos 800 m³/s vigentes em Xingó contraria o que havia sido estabelecido na resolução 2081/2017, cuja vazão mínima, para a região do Baixo, devia ser da ordem de 1.100 m³/s. Um problema complexo a ser resolvido, e que precisa ser levado em consideração, também, os impactos causados pela má gestão hídrica praticada sobre os principais aquíferos da bacia do rio, em especial sobre o Urucuia, responsável direto por mais da metade da vazão do São Francisco que aflui na represa de Sobradinho.  

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Canoa de Tolda" - 29/03/2021

Prezadas e prezados, 

Na última semana o setor elétrico, através do ONS - Operador Nacional do Sistema, através de demanda à ANA - Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, solicitou que as vazões no Baixo São Francisco (trecho final do rio São Francisco entre a UHE Xingó, nos estados de Alagoas e Sergipe e a foz no oceano Atlântico) nos atuais e ínfimos 800 m³/s (oitocentos metros cúbicos por segundo) de vazão média (o que significa, na realidade, oscilações com valores ainda menores), sejam mantidas no mesmo patamar nos próximos meses. 

A solicitação do ONS contraria as regras impostas desde o início de 2021 pela danosa Resolução ANA 2081/2017 segundo a qual, para o período úmido e estando o reservatório de Sobradinho acima de 60% de seu volume, a vazão mínima no Baixo São Francisco deve ser de 1.100 m³/s.

Na tarde de hoje ocorrerá nova rodada de conversações na Sala de Monitoramento São Francisco (reunião virtual que pode ser acessada em 2a. Reunião de Acompanhamento da Sala de Acompanhamento do Sistema Hídrico São Francisco ) onde o ONS tentará justificar o que chama de flexibilização da Resolução ANA 2081/2017.

Temos a criação de um momento crítico, pois consolida o domínio completo, regulado, legalizado, da posse das águas do São Francisco pelo setor elétrico. É um sistema que se aplica aos demais rios brasileiros barrados nos quais temos Usinas Hidro Elétricas, sejam públicas ou privadas.

Desta forma, foi encaminhado à ANA - Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, nosso ofício CT036/2021, chamando a agência para uma mudança nos rumos da gestão das águas no Brasil. Trata-se de uma derradeira oportunidade para o rio São Francisco e demais rios brasileiros.

Convidamos a todas e todos que conheçam um pouco da não veiculada realidade sobre a bacia hidrográfica do Velho Chico e que escolham a via da defesa de nosso patrimônio natural. Sem ele, não há futuro.

Agradecemos suas atenções,

Carlos Eduardo Ribeiro Jr.

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