quarta-feira, 25 de maio de 2016

Cagepa confirma em laudos que água de Boqueirão tem alto índice de contaminação

Situação é preocupante e pode se agravar com falta de chuvas; empresa monitora a água que sai da estação de tratamento e a que chega em hospitais que fazem hemodiálise.

Serviços | Em 20/05/16 às 20h30, atualizado em 20/05/16 às 21h16 | Por Hermes de Luna e Amanda Gabriel
Jornal Correio da Paraíba
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Boqueirão tem apenas 9,6% da capacidade
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O Portal Correio teve acesso, com exclusividade, a um documento oficial da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (CAGEPA) que confirma ao Comitê da Bacia Hidrográfica da Paraíba (CBP-PB) a presença de cianobactérias e cianotoxinas nas águas do Açude Epitácio Pessoa (Boqueirão), responsável pelo abastecimento em Campina Grande. O relatório fala que entre março e abril deste ano a concentração dos organismos havia superado 10 mil células por mililitro. Segundo o professor e especialista em recursos hídricos Janiro Costa, da Universidade federal de Campina Grande (UFCG), há risco iminente de interrupção total na distribuição da água, devido ao alto potencial de proliferação dessas cianotoxinas.
Leia mais Notícias no Portal Correio “Campina está em risco iminente de ficar completamente sem água. A proliferação dessas toxinas é muito rápida e esse processo é acelerado à medida que o nível no açude vai diminuindo. De uma hora para outra a concentração desses organismos pode ultrapassar o limite estabelecido pela legislação e, se isso acontecer, a Cagepa será obrigada a parar a distribuição da água do Boqueirão na cidade”, alerta oprofessor. 
“É importante ressaltar, porém, que a Cagepa já está consciente da situação. Pode ser que a suspensão total no abastecimento não venha a ocorrer, mas existe o risco sim. Se não houvesse a Cagepa não teria alertado sobre a necessidade de monitoramento semanal desses organismos e da qualidade da água”, pondera Janiro Costa. 
Em documento encaminhado ao presidente da CBP-PB, Ulysmar Curvelo Cavalcanti, no dia 28 de abril, cujo Portal Correio teve acesso, a Cagepa recomenda monitoramento semanal do manancial, conforme exige o Ministério da Saúde. 
No relatório, a Cagepa diz que terceiriza o monitoramento dessas análises com o Laboratório de Ecologia Aquática, da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), onde são feitas as determinações acerca da biodiversidade e quantificação da comunidade de cianobactérias.
“Deve-se realizar análises das concentrações de microcistina e saxitoxina no ponto de capacitação de água do manancial e na saída do tratamento da água com frequencia semanal. A ocorrência de organismos dos gêneros de Cylindropermopsis e Dolichospermum nas águas é um indicativo de contaminação potencial por cilindrospermopsina e anatoxina, respectivamente, deste modo, recomenda-se também a análise destas variantes de cianotoxinas", diz parte do parecer da CAGEPA. 
Risco de contaminação. Ainda segundo especialista em recursos hídricos Janiro Costa, o sistema de tratamento de água atual em Campina Grande não é capaz de reter as cianobactérias e cianotoxinas. Alguns desses organismos podem provocar doenças gastrointestinais, neurológicas ou na pele, podendo levar também à morte. 
O professor da UFCG lembra que em 1996 cerca de 60 pessoas morreram após sessões de hemodiálise em Caruaru, no estado de Pernambuco. Investigações apontaram que os pacientes podem ser sido intoxicados pela água utilizada no processo de hemodiálise. 
No relatório enviado ao Comitê da Bacia Hidrográfica da Paraíba, a Cagepa sustenta que amostras são feitas mensalmente nos hospitais e clínicas que realizam o procedimento em Campina Grande e que, até o presente momento, elas apresentaram valores dentro dos padrões de potabilidade.
Soluções. De acordo com o professor Janiro Costa, só há duas formas de conter a proliferação de cianotoxinas no Açude de Boqueirão. “A primeira seria ampliar a estação de tratamento, com utilização de métodos mais avançados que fossem capazes de reter os organismos. Mas essa tecnologia exigiria um investimento financeiro muito alto”, analisa. 
“A outra forma seria a chegada de água no reservatório, pois quanto menor o volume, maior o potencial de contaminação na água. Com chuvas não podemos contar mais este ano, pois o que chover não será suficiente. Uma alternativa seria acelerar a Transposição do Rio São Francisco, cuja conclusão só está prevista para janeiro do próximo ano. Até lá, Campina pode entrar em colapso”, alerta o especialista. 
Nessa quinta-feira (19), o Portal Correio divulgou que a hipótese de conclusão das obras ainda este ano foi levantada pelo ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho. O anúncio foi feito após reunião com senadores e deputados federais da Paraíba.

A Cagepa foi procurada pelo Portal Correio para comentar o assunto, dar mais detalhes sobre o documento e explicar sobre alternativas para o abastecimento de água em Campina Grande, mas até a publicação desta matéria os questionamentos não foram respondidos.

Açude Epitácio Pessoa. O açude Epitácio Pessoa tem uma capacidade total de mais de 441,6 milhões de metros cúbicos. Seu volume atual é de apenas 39,4 milhões, o que representa apenas 9,6% de sua capacidade total de armazenamento. A Cagepa garante que há água para o abastecimento até janeiro do ano que vem.
Sobre o assunto

Remoção de microrganismos emergentes e microcontaminantes orgânicos no tratamento de água para consumo humano, PROSAB, 2009

Sustentabilidade hídrica e qualidade das águas: avaliação das estratégias de convivência com o Semiárido, Margarida Regueira da Costa, 2009


Contribuição ao estudo hidrológico do Semiárido nordestino, João Suassuna, 1999

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