UFPE: Omissão sem punição.
Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco
O
caso do Hospital das Clínicas (HC), unidade de saúde vinculada a Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE), é um caso típico que macula a imagem do serviço
público, e daqueles que ali trabalham com abnegação e responsabilidade. Como
admitir que a Administração Central da UFPE, aceite que gestores do HC se
omitam e sejam negligentes em suas responsabilidades no trato da saúde pública?
No
organograma da UFPE, o HC é um órgão suplementar ligado diretamente ao Reitor,
para efeito de supervisão e controle administrativo, cujo objetivo é oferecer
atendimento médico e hospitalar à população nas mais diversas áreas. Também tem
como função básica apoiar o ensino de graduação e pós-graduação do Centro de
Ciências da Saúde (CCS).
A
missão do HC é “prestar um serviço de excelência à sociedade nos âmbitos da
assistência, do ensino, da pesquisa e da extensão, com o intuito de avançar nos
conhecimentos científicos relacionados à saúde, promoção e preservação da vida”.
Como então se calar frente à situação calamitosa, de completo descaso e omissão
de seus dirigentes, denunciada amplamente pelos seus servidores e pela
comunidade universitária através de seus órgãos representativos?
Como
fica então a situação caótica em que vidas humanas estão em jogo? O dia a dia
do Hospital é uma composição da falta de elevadores, pacientes que sofrem com
as consultas canceladas, falta de material de consumo básico, banheiros sem
possibilidade digna de uso, ausência de cadeiras de rodas para aqueles que
chegam para atendimento, alas do Hospital infestadas de baratas, escorpiões,
abelhas, ratos. O que contribui para as péssimas condições de trabalho que são
submetidas aos profissionais do Hospital. Verdadeiros heróis anônimos desta
desorganização implantada deliberadamente neste centro hospitalar.
A
evidência da intencionalidade dos gestores foi revelada ao público, em
entrevista concedida pelo diretor superintendente, que revelou que nada
poderia ser feito, antes que a Universidade assinasse um contrato de gestão com
a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), criada pela Lei
Federal nº 12.550 15/12/2011, e que teve seu Estatuto Social aprovado pelo
Decreto nº 7.661, em 28 de dezembro do mesmo ano, em pleno período de festas
natalinas, sem nenhuma discussão com os interessados, e muito criticada. O
diretor nesta entrevista, atesta sua completa incompetência gerencial para a
resolução dos problemas do HC.
Para
coibir estas praticas existe o Código de Ética Profissional do Servidor
Público Civil do Poder Executivo Federal (Decreto nº 1.171, de 22/6/1994), em que se deve basear para
poder denunciar o servidor(a) para a Comissão de Ética do órgão, encarregada de
“orientar e aconselhar sobre a ética profissional do servidor, no tratamento
com as pessoas e com o patrimônio público, competindo-lhe conhecer
concretamente de imputação ou de procedimento susceptível de censura”.
Na I
seção, o Código de Ética fala Das Regras Deontológicas, e no item V está
escrito “O trabalho desenvolvido pelo servidor público perante a comunidade
deve ser entendido como acréscimo ao seu próprio bem-estar, já que, como
cidadão, integrante da sociedade, o êxito desse trabalho pode ser considerado
como seu maior patrimônio”.
Já na seção II que trata dos Principais
Deveres dos Servidores Públicos é afirmado entre os deveres fundamentais do
servidor “exercer suas atribuições com rapidez, perfeição e rendimento,
pondo fim ou procurando prioritariamente resolver situações procrastinatórias,
principalmente diante de filas ou de qualquer outra espécie de atraso na
prestação dos serviços pelo setor em que exerça suas atribuições, com o fim de
evitar dano moral ao usuário”.
E na seção que trata Das Vedações ao
Servidor Público, é vedado ao servidor “prejudicar deliberadamente a
reputação de outros servidores ou de cidadãos que deles dependam”.
O
inimaginável nesta situação surrealista é que a Administração da UFPE não
enquadre os gestores do HC e os demita sumariamente. Assim não o fazendo
prevarica, é tolerante, indulgente ao irregular funcionamento do Hospital.
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