O desafio da distribuição da água.
A questão da política da açudagem
no Semiárido, faz parte do nosso discurso contrário ao projeto da transposição
e favorável à vida do Velho Chico e do Semiárido.
João Suassuna.
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1166906
O
sucesso de açudes, a exemplo do gigante Castanhão, é apontado como uma das
glórias das obras do Dnocs.
Limoeiro do Norte
A seca é hoje um problema menor que ontem. As
enchentes também. Os reservatórios espalhados pela região Nordeste do Brasil,
sobretudo no Ceará, quando não garantem, amenizam a situação de abastecimento
dos Municípios - à exceção dos reservatórios menores, que às dezenas têm
entrado em colapso neste ano. Mas, o sucesso de açudes como o gigante Castanhão
para abastecimento humano e irrigação da agricultura é apontado como uma das
glórias do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs).
Além de ter água para abastecimento ao menos nos
próximos quatro anos, o Castanhão ainda é um regulador de cheias, por sua
bilionária capacidade de reserva. Especialistas atuantes no Dnocs discordam da
tese de que a água dos açudes não tenha por prioridade o abastecimento humano.
Sim, parte significativa vai para a irrigação, mas, de acordo com o engenheiro
agrônomo Ney Barros, a própria irrigação "também tem sua função social de
abastecimento".
Ney é chefe do setor técnico da coordenadoria
estadual do Dnocs. Acompanha a situação dos 65 açudes do departamento no Ceará
e comemora que o Castanhão, a mais de 200 quilômetros de distância, consiga ser
um garantidor de água para milhões de habitantes em Fortaleza. Além disso, é
quem abastece os dois maiores perímetros irrigados do Estado, o Tabuleiros de
Russas e o Jaguaribe-Apodi.
Dos Estados do Nordeste, é também o Ceará quem
mais possui reservatórios construídos pelo Dnocs. Os 65 açudes estão em todas as
macrorregiões do Estado. Também comportam três dos cinco maiores reservatórios
do órgão no Nordeste: Castanhão, Orós e Banabuiú. O monitoramento deles, bem
como dos outros açudes públicos do Governo do Estado, é feito pela Companhia de
Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), subordinada à Secretaria dos Recursos
Hídricos do Estado (SRH) do Ceará.
Quanto menos chuvas, mais importância ganham os
reservatórios públicos. No caso do Castanhão, até mesmo na enchente de 2009,
não existisse teriam sido bem maiores as inundações em Municípios baixos como
Limoeiro, Tabuleiro do Norte, Jaguaruana e Itaiçaba.
Monitoramento
Entre federais e estaduais, o Ceará monitora 138
açudes, seguindo com mais de 60% dos 17 bilhões de metros cúbicos de
capacidade. Na primeira semana de agosto, 32 açudes estavam com menos de 30% da
capacidade, o que representará colapso de abastecimento até o fim do ano.
Em Municípios como Quiterianópolis, a população
precisou ser abastecida com carros-pipa. "A política de açudagem é muito
importante. O acesso à água é garantido pelos comitês gestores, formados pela
própria comunidade e outras representações. Nas reuniões se decidem as formas
de liberação da água, de modo a garantir que não se perca a prioridade do
abastecimento humano", afirma Ney Barros.
Para os próximos 50 anos, os especialistas em
meteorologia e estudos climáticos apontam um cenário de mais estiagem, menos
chuvas e mais calor, ou seja, alto índice de evaporação com uma redução na
recarga dos açudes. Nessa projeção de décadas à frente, a política de açudes é
posta em dúvida sobre se é a melhor forma, com um custo alto, de garantir o
recurso hídrico. O engenheiro Ney Barros acredita que, ao menos nas próximas
décadas, a política de açudagem deve continuar. "Mesmo quando chove menos,
não há ano de previsão zero. Algo que precisa ser feito, e o Governo do Estado
do Ceará está implantando, são os eixões das águas. O importante é estabelecer
bacias de reserva para as águas e canais de distribuição. Dessa forma, se pode
levar água para a região dos Inhamuns, por exemplo, onde chove tão pouco",
explicou.
Eixos
Existem oito eixos de integração hídrica
construídos no Estado do Ceará (332,90 quilômetros de extensão) um em
construção e cinco projetados. O primeiro trecho do Cinturão das Águas, que já
está sendo chamado de Canal do Cariri, deverá receber as águas integradas do
São Francisco, numa extensão de 160 quilômetros. A tarefa principal será levar
a água para o maior número de habitantes, melhorando a qualidade de vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário