PORQUE MANTER O MANGUE DE SUAPE
Pelo Professo Ralf Schwamborn
Ralf Schwamborn é professor do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Com doutorado na Alemanha, ele pesquisa a dinâmica dos manguezais e a teia trófica (cadeia alimentar) desses ecossistemas. O biólogo foi um dos pesquisadores convidados pela Comissão de Meio da Assembleia Legislativa para debater, nesta terça, o projeto de lei do governo de Pernambuco que propõe o desmatamento de 1.076 hectares de vegetação nativa em Suape, dos quais 893 são de mangue. Veja o que o especialista acha do aterro recorde na entrevista a seguir:
1-O senhor tem conhecimento de um desmatamento de mangue dessas proporções, no Brasil?
Ralf Schwamborn é professor do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Com doutorado na Alemanha, ele pesquisa a dinâmica dos manguezais e a teia trófica (cadeia alimentar) desses ecossistemas. O biólogo foi um dos pesquisadores convidados pela Comissão de Meio da Assembleia Legislativa para debater, nesta terça, o projeto de lei do governo de Pernambuco que propõe o desmatamento de 1.076 hectares de vegetação nativa em Suape, dos quais 893 são de mangue. Veja o que o especialista acha do aterro recorde na entrevista a seguir:
1-O senhor tem conhecimento de um desmatamento de mangue dessas proporções, no Brasil?
Ralf Schwamborn - Não conheço projeto de lei com uma destruição de manguezais nas proporções que observamos em Suape. Acho totalmente absurdo. Trata-se de um modelo de desenvolvimento econômico antiquado, do século 19: destruição permanente dos recursos renováveis com a perspectiva do lucro imediato. Não sei como alguém pode propor uma lei dessas. O caminho deveria ser o inverso: em função dos imensos danos ambientais já causados em Suape, deveria se propor, como medida compensatória, a preservação das poucas áreas remanescentes, com estruturas que favorecessem a educação ambiental.
2- Que danos o corte de uma área tão extensa acarretaria ao meio ambiente?
2- Que danos o corte de uma área tão extensa acarretaria ao meio ambiente?
Ralf Schwamborn - O desmatamento proposto causaria impactos drásticos e permanentes sobre o meio físico, geológico, biótico e antrópico, em escala local e regional.
3-No meio físico?
Ralf Schwamborn -Alteração das propriedades da água do mar nas proximidades do estuário e da baia de Suape (aumento da turbidez da água do mar na zona costeira).
4-No meio geológico?
4-No meio geológico?
Ralf Schwamborn - Alteração da dinâmica de transporte de sedimentos costeiros (aterros/assoreamen to).
5-No meio biótico?
5-No meio biótico?
Ralf Schwamborn - Centenas de espécies usam o manguezal como berçário, ou seja como local de abrigo para suas formas jovens. Entre estas, estão inúmeras espécies de importância sócio-econômica (espécies de camarão, caranguejo, guaiamum, peixes, ostras) e várias espécies ameaçadas de extinção. Exemplos: pitu (Macrobrachium carcinus) e mero (Epinephelus itajara).
6-Nas funções ecológicas do mangue?
6-Nas funções ecológicas do mangue?
Ralf Schwamborn - Ressaltamos a produção de plâncton nos manguezais e a função do manguezal como “filtro biológico”, retendo matéria orgânica e poluentes, como metais pesados. A destruição dos manguezais em Suape acarretará na liberação destas substâncias tóxicas no mar da zona costeira, com consequências drásticas e incalculáveis para o meio ambiente, por exemplo para os recifes de corais na região.
7-No meio antrópico?
Ralf Schwamborn - Haverá um forte impacto direto sobre a população ribeirinha local que vive da exploração sustentável do mangue e da pesca. É discutível se a renda gerada coma expansão de Suape beneficiará estas pessoas. Alternativas locacionais: Será que a expansão de Suape tem que ser necessariamente nos manguezais e restingas, os ecossistemas que mais sofrem com a atividade antrópica na zona costeira? Não haveria outras áreas disponíveis, atualmente usadas para a agricultura?
Nenhum comentário:
Postar um comentário