De grande importância o artigo abaixo, do Dr. João Suassuna, Diretor do Instituto Nacional do Semiárido (INSA).
Água não é a única solução para o semiárido diz diretor do Instituto Nacional do Semiárido(Insa)
Para desenvolver o semiárido, é preciso enterrar a idéia de que a região só avançará se dispuser de água abundante, diz diretor do Instituto Nacional do Semiárido (Insa)
15/04/2010
http://www.ecodebate.com.br/2010/04/15/agua-nao-e-a-unica-solucao-para-o-semiarido-diz-diretor-do-instituto-nacional-do-semiaridoinsa/
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Semi-árido
A cisterna de placas é uma construção de baixo custo e técnica simples, feita de placas de cimento pré-moldadas, construídas na própria comunidade, com formato cilíndrico, coberta e semienterrada. Seu funcionamento prevê a captação de água da chuva, aproveitando o telhado da casa, escoando através de calhas (bicas) até o reservatório. Cada cisterna tem capacidade de armazenar 16 mil litros de água, quantidade suficiente para uma família de 5 pessoas beber, cozinhar e escovar os dentes, por um período de 6 a 8 meses – época da estiagem na região. Foto: Roberta Guimarães/Articulação no Semi-Árido Brasileiro – ASA Brasil
O desenvolvimento do semiárido brasileiro, região com quase 1 milhão de quilômetros quadrados na qual vivem cerca de 23 milhões de pessoas de nove estados brasileiros (metade delas na área rural), dependerá sobretudo de uma quebra de paradigma. Será preciso enterrar a idéia de que a região só avançará econômica e socialmente se dispuser de água em abundância.
“Tão prejudicial como negar a miséria do semiárido é a idealização da irrigação em toda a região”, afirmou o diretor do Instituto Nacional do Semiárido (Insa), Roberto Germano Costa, durante a conferência de abertura da Reunião Regional da SBPC em Mossoró (RN), proferida na noite desta terça-feira, dia 13.
Na conferência, Germano Costa mostrou que apenas 2% das terras do semiárido são passíveis de receber sistemas de irrigação. Para agravar, os longos períodos de seca e a variabilidade das chuvas tendem a se intensificar com as mudanças climáticas. “Na região, 60% das chuvas ocorrem em apenas um mês, sendo que 30% em um só dia. Trata-se de uma dinâmica climática que ninguém conseguirá mudar”, frisou ele. Por isso, na sua avaliação, é necessário acabar com a visão de que a água é a única solução para os problemas do semiárido, e passar a apostar nas potencialidades da região.
Apostar em culturas xerófilas, adaptadas à escassez de água, pode ser um dos caminhos, uma vez que a agricultura na região é uma atividade de alto risco. “Historicamente, a cada dez anos se tem apenas dois anos de chuvas regulares”, disse o diretor do Insa. Além disso, as áreas de sequeiro utilizadas hoje correspondem a apenas 4,8% do território. A pecuária, por sua vez, apesar de ser de baixo risco, precisa avançar mais em manejo, nutrição, reprodução e melhoramento, sendo que o principal gargalo são as forragens.
O semiárido ainda tem o desafio de resolver a questão das pequenas propriedades. Com 2,5 milhões de estabelecimentos rurais, cerca de 1,9 milhões deles possuem menos que 20 hectares, área insuficiente para garantir a sustentabilidade de uma família. “O desafio é conviver com as peculiaridades da região, transformando a semiaridez em uma vantagem”, ressaltou Germano Costa.
Exemplos de potencialidades não faltam. É o caso da palma, que no México está sendo utilizada mais para alimentação humana do que animal. Do licuri, do qual é possível fazer azeite e até barra de cereais. Ou da faveleira, usada na produção de óleo. “A questão toda é agregar valor com inovação tecnológica”, resume, citando o exemplo do mel, cuja expansão da cadeia produtiva praticamente está na dependência da quebra de barreiras fitossanitárias.
Para transpor esse desafio, diz Germano Costa, será necessário haver uma educação de ensino superior contextualizada, focada nas reais potencialidades da região e na inovação, de forma que se possa gerar produtos e serviços com vantagens competitivas.
Ele lembra que a economia do século XXI é pautada pela baixa emissão de carbono, por uma regulação ambiental mais severa, responsabilidade socioambiental, exploração de energia renovável e eficiência energética, e de novos materiais e processo produtivos. Nesse contexto, a exploração de culturas xerófilas, a agroecocologia e a agropecuária devem estar também na pauta dos estudos das universidades e instituições de pesquisa. Assim como estudos que visem frear a desertificação do solo na região.
O diretor do Insa destaca, porém, que os problemas do semiárido não se limitam à exploração sustentável dos recursos naturais. “É necessário romper com a política de combate a seca, de clientelismo e manipulação da miséria, entre outros inúmeros problemas de ordem social, econômica e política”, ressaltou.
“Trata-se de uma questão estratégica e de interesse nacional”, acrescentou ele, lembrando que, em todo o mundo, há uma tendência de as regiões áridas ou semiáridas aumentarem de tamanho, enquanto que a porção agricultável tende a ser insuficiente para atender a demanda de alimentos causada pelo crescimento da população. “Não é difícil imaginar as conseqüências sociais e econômicas caso o semiárido brasileiro, considerada a região semiárida mais populosa do mundo, não consiga ter uma economia sustentável de fato”, ressaltou Germano Gosta.
Informe da SBPC, publicado pelo EcoDebate, 15/04/2010
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por João Suassuna — Última modificação 15/04/2010 11:19
A cisterna de placas é uma construção de baixo custo e técnica simples, feita de placas de cimento pré-moldadas, construídas na própria comunidade, com formato cilíndrico, coberta e semienterrada. Seu funcionamento prevê a captação de água da chuva, aproveitando o telhado da casa, escoando através de calhas (bicas) até o reservatório. Cada cisterna tem capacidade de armazenar 16 mil litros de água, quantidade suficiente para uma família de 5 pessoas beber, cozinhar e escovar os dentes, por um período de 6 a 8 meses – época da estiagem na região. Foto: Roberta Guimarães/Articulação no Semi-Árido Brasileiro – ASA Brasil
O desenvolvimento do semiárido brasileiro, região com quase 1 milhão de quilômetros quadrados na qual vivem cerca de 23 milhões de pessoas de nove estados brasileiros (metade delas na área rural), dependerá sobretudo de uma quebra de paradigma. Será preciso enterrar a idéia de que a região só avançará econômica e socialmente se dispuser de água em abundância.
“Tão prejudicial como negar a miséria do semiárido é a idealização da irrigação em toda a região”, afirmou o diretor do Instituto Nacional do Semiárido (Insa), Roberto Germano Costa, durante a conferência de abertura da Reunião Regional da SBPC em Mossoró (RN), proferida na noite desta terça-feira, dia 13.
Na conferência, Germano Costa mostrou que apenas 2% das terras do semiárido são passíveis de receber sistemas de irrigação. Para agravar, os longos períodos de seca e a variabilidade das chuvas tendem a se intensificar com as mudanças climáticas. “Na região, 60% das chuvas ocorrem em apenas um mês, sendo que 30% em um só dia. Trata-se de uma dinâmica climática que ninguém conseguirá mudar”, frisou ele. Por isso, na sua avaliação, é necessário acabar com a visão de que a água é a única solução para os problemas do semiárido, e passar a apostar nas potencialidades da região.
Apostar em culturas xerófilas, adaptadas à escassez de água, pode ser um dos caminhos, uma vez que a agricultura na região é uma atividade de alto risco. “Historicamente, a cada dez anos se tem apenas dois anos de chuvas regulares”, disse o diretor do Insa. Além disso, as áreas de sequeiro utilizadas hoje correspondem a apenas 4,8% do território. A pecuária, por sua vez, apesar de ser de baixo risco, precisa avançar mais em manejo, nutrição, reprodução e melhoramento, sendo que o principal gargalo são as forragens.
O semiárido ainda tem o desafio de resolver a questão das pequenas propriedades. Com 2,5 milhões de estabelecimentos rurais, cerca de 1,9 milhões deles possuem menos que 20 hectares, área insuficiente para garantir a sustentabilidade de uma família. “O desafio é conviver com as peculiaridades da região, transformando a semiaridez em uma vantagem”, ressaltou Germano Costa.
Exemplos de potencialidades não faltam. É o caso da palma, que no México está sendo utilizada mais para alimentação humana do que animal. Do licuri, do qual é possível fazer azeite e até barra de cereais. Ou da faveleira, usada na produção de óleo. “A questão toda é agregar valor com inovação tecnológica”, resume, citando o exemplo do mel, cuja expansão da cadeia produtiva praticamente está na dependência da quebra de barreiras fitossanitárias.
Para transpor esse desafio, diz Germano Costa, será necessário haver uma educação de ensino superior contextualizada, focada nas reais potencialidades da região e na inovação, de forma que se possa gerar produtos e serviços com vantagens competitivas.
Ele lembra que a economia do século XXI é pautada pela baixa emissão de carbono, por uma regulação ambiental mais severa, responsabilidade socioambiental, exploração de energia renovável e eficiência energética, e de novos materiais e processo produtivos. Nesse contexto, a exploração de culturas xerófilas, a agroecocologia e a agropecuária devem estar também na pauta dos estudos das universidades e instituições de pesquisa. Assim como estudos que visem frear a desertificação do solo na região.
O diretor do Insa destaca, porém, que os problemas do semiárido não se limitam à exploração sustentável dos recursos naturais. “É necessário romper com a política de combate a seca, de clientelismo e manipulação da miséria, entre outros inúmeros problemas de ordem social, econômica e política”, ressaltou.
“Trata-se de uma questão estratégica e de interesse nacional”, acrescentou ele, lembrando que, em todo o mundo, há uma tendência de as regiões áridas ou semiáridas aumentarem de tamanho, enquanto que a porção agricultável tende a ser insuficiente para atender a demanda de alimentos causada pelo crescimento da população. “Não é difícil imaginar as conseqüências sociais e econômicas caso o semiárido brasileiro, considerada a região semiárida mais populosa do mundo, não consiga ter uma economia sustentável de fato”, ressaltou Germano Gosta.
Informe da SBPC, publicado pelo EcoDebate, 15/04/2010
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por João Suassuna — Última modificação 15/04/2010 11:19