terça-feira, 25 de novembro de 2014
FALTA D'ÁGUA EM CIDADES TEM A VER COM DEVASTAÇÃO DESENFREADA DA AMAZÔNIA
Chuvas que recarregam reservatórios da região Sudeste são oriundas da Amazônia. Árvores são ‘toque final’ da máquina biológica que produz chuvas.
Veja a matéria, clicando no endereço abaixo:
http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/08/falta-dagua-em-cidades-tem-ver-com-devastacao-desenfreada-da-amazonia.html
O chão foi o destino de 20% das árvores da Floresta Amazônica original. Que isso vem acontecendo há anos, todos sabem. O que você provavelmente não sabe é que esse crime ambiental tem a ver com a falta d'água na maior cidade da América Latina. É que a Amazônia bombeia para a atmosfera a umidade que vai se transformar em chuva nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. Quanto maior o desmatamento, menos umidade e, portanto, menos chuva. E sem chuva, os reservatórios ficam vazios e as torneiras, secas.
É guerra contra a cobiça. No coração da Amazônia, o exército formado pelo Ibama, pela Funai e pela Polícia Federal atinge mais um alvo. Garimpeiros presos, madeireiros multados, equipamentos destruídos. E a prova do crime apreendida. Esse é o front de um conflito que já dura pelo menos quatro décadas no Brasil. Desde que as primeiras estradas rasgaram a floresta para permitir a colonização. Caminhos que acabaram facilitando também o acesso de exploradores gananciosos e sem escrúpulos. Um crime ambiental que ainda está longe do fim.
Uma árvore que leva mais de 100 anos para crescer. E que em menos de um minuto, já pode estar derrubada. E o pior é que a madeira nem é aproveitada. Nesse tipo de desmatamento, o objetivo é simplesmente derrubar tudo, tocar fogo e transformar a área em pastagem para a criação de gado. Um crime ambiental que geralmente só é notado pelos fiscais tarde demais, quando a floresta já virou carvão.
Clareiras somam área maior que França e Alemanha juntas
“Isso aqui é roubo de terras da União. Grileiros furtam a terra da União, praticam o desmate multiponto, vários pontos embaixo da floresta, dificultando o satélite de enxergá-lo.”, explica Luciano de Menezes Evaristo, diretor de proteção ambiental do Ibama.
O que os olhos poderosos dos satélites não veem, a floresta, lamentavelmente, sente: 20% das árvores da Amazônia original já foram para o chão. Restaram imensas clareiras que somam uma área maior que a França e a Alemanha juntas.
O Fantástico acompanhou, com exclusividade, a maior operação contra grileiros na Amazônia neste ano. Em uma conversa gravada pela Polícia Federal com autorização da Justiça, um dos presos admite que o interesse dos criminosos é apenas nas terras.
“Como a floresta lá é muito bruta, os troncos são muito grossos, então o custo é muito grande. São árvores antigas, árvores velhas”, ele diz.
Consequências da devastação estão próximas de todos
Derrubadas e garimpos deixam uma cicatriz gigantesca na mata que pode parecer um problema exclusivo de árvores e bichos, distante da maioria das pessoas. Mas a ciência e as novas tecnologias comprovam que as consequências da devastação estão muito mais próximas de todos nós.
Nascentes que já não vertem mais água. Represas com menos de 10% de sua capacidade original de armazenagem. Uma delas, por exemplo, perto de Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo, deveria ter em um ponto uma profundidade de pelo menos cinco metros. Está agonizando. Mas o que a falta de água nesta região do país tem a ver com a Amazônia que fica a mais de 2 mil quilômetros de distância? Tudo, absolutamente tudo, segundo cientistas que estudam as funções da floresta e as variações climáticas na América do Sul.
“Essas chuvas que ocorrem principalmente durante o verão, a umidade é oriunda da Amazônia. E essa chuva que fica vários dias é que recarrega os principais reservatórios da Região Sudeste.” explica Gilvan Sampaio, climatologista do Inpe.
Fantástico tem acesso exclusivo a relatório sobre futuro climático
O Fantástico teve acesso exclusivo ao relatório sobre o futuro climático da Amazônia que só vai ser divulgado oficialmente na Conferência Sobre o Clima em Lima, no Peru, no fim deste ano. O trabalho desenvolvido em parceria por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e do Inpa, que investiga a Amazônia, reúne mais de 200 estudos e traça um minucioso roteiro das chuvas no continente sul-americano.
“Está mudando o clima. A gente vê isso acontecendo na Amazônia. Tem muitos trabalhos mostrando que a extensão da estação seca está se prolongando”, diz Antônio Nobre, pesquisador do Inpa.
De acordo com esse relatório, nos últimos 400 milhões de anos, a umidade que evapora dos oceanos é empurrada naturalmente pelos ventos para dentro dos continentes. Uma parte desse vapor vira chuva e cai, principalmente, sobre as grandes florestas na altura do Equador. O excesso de umidade segue empurrado pelos ventos, atravessa os continentes e acaba indo para o mar. Um ciclo que ao redor da Terra só tem uma exceção: a Amazônia.
Diferencial da Amazônia
O que torna a Amazônia diferente de todas as grandes florestas equatoriais do planeta é a Cordilheira dos Andes. Um imenso paredão, de 7 mil metros, que impede que as nuvens se percam no Pacífico. Elas esbarram na Cordilheira e desviam para o Sul.
“Esses ventos viram aqui e se contrapõem à tendência natural dessa região aqui de ser deserto. É uma região que produz 70% do PIB da América do Sul - região industrial, agrícola, onde está a maior parte da população da América do Sul”, explica Antônio Nobre, pesquisador do Inpa.
Mas de onde vem tanta água? Como funciona a fantástica máquina biológica que faz chover? Segundo os cientistas, o toque final cabe às árvores.
Fincadas a até 20 ou 30 metros de profundidade, as raízes sugam a água da terra. Os troncos funcionam como tubos. E, pela transpiração, as folhas se encarregam de espalhar a umidade na atmosfera.
Diariamente, cada árvore amazônica bombeia em média 500 litros de água.
A Amazônia inteira é responsável por levar 20 bilhões de toneladas de água por dia do solo até a atmosfera, 3 bilhões de toneladas a mais do que a vazão diária do Amazonas, o maior rio do mundo.
“Se você tivesse uma chaleira gigante ligada na tomada, você precisaria de eletricidade da Usina de Itaipu, que é a maior do mundo em potência, funcionando por 145 anos para evaporar um dia de água na Amazônia. Quantas Itaipus precisaria para fazer o mesmo trabalho que as árvores estão fazendo silenciosamente lá? 50 mil usinas Itaipu”, explica Antônio Nobre.
“Rio voadores” cruzam o Brasil
Esse imenso fluxo de água pelos ares é chamado de "rios voadores". O Fantástico chamou a atenção para a importância desses rios já em 2007. Imagens feitas de um avião do projeto "rios voadores" revelam nuvens densas, carregadas de água, cruzando todo o Brasil.
Testes feitos em laboratório comprovaram: mais da metade da água das chuvas nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil e também na Bolívia, no Paraguai, na Argentina, no Uruguai e até no extremo sul do Chile vem da Amazônia.
Para os cientistas, uma prova irrefutável do papel dos Andes e da Floresta Amazônica no ecossistema do cone-sul é a inexistência de um deserto nessa região. Basta olhar o globo para constatar que na mesma latitude em volta do planeta tudo é deserto. Menos na América do Sul.
Os pesquisadores não têm dúvida: sem a Amazônia, os estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul fatalmente seriam desertos também.
“Para quem está no Brasil, seja Porto Alegre ou Manaus ou São Paulo tem que saber que a água que consome em sua residência, uma parte dela vem da Amazônia e que por isso temos que preservar”, alerta Gilvan Sampaio.
Devastação bloqueia “rios voadores” em São Paulo
As imagens dos satélites que acompanham a movimentação das nuvens de chuva comprovam que a grande seca que assola as regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, em parte, está relacionada aos desmatamentos. No estado de São Paulo, por exemplo, a devastação da Mata Atlântica permite a formação de uma massa de ar quente na atmosfera. Tão densa que chega a bloquear os “rios voadores”, já enfraquecidos por conta do desmatamento na Amazônia. Represados no céu, eles acabam desaguando no Acre e em Rondônia, onde, este ano, foram registradas as maiores enchentes da história.
MP e Receita Federal entram na luta contra o desmatamento
Na luta contra o desmatamento, o Ibama, a Funai e a Polícia Federal acabam de GANHAR mais um aliado: o Ministério Público, que passou a juntar dados da Receita Federal para poder enquadrar as quadrilhas também por lavagem de dinheiro e sonegação fiscal, falcatruas que podem levar a mais de 10 anos de cadeia.
Pelas contas da Procuradoria da República no Pará, só a quadrilha presa na última operação desviou dos cofres públicos R$ 67 milhões em impostos. Um crime que mistura ganância e ignorância.
Fantástico: Quando você mete a motoserra em uma árvore que levou 100 anos para chegar daquele tamanho, não dá dó?
Homem: Não tem como a gente ter dó das coisas. Ninguém tem dó da gente também, né? Tem que desmatar para viver, né?
“Eu não sei se tá errado, não. Pra mim, está certo porque eu estou trabalhando. Enquanto os vagabundos ficam soltos na cidade, a gente tem que trabalhar escondido. Aí é difícil”, diz uma mulher.
Reflorestar áreas desmatadas antes que seja tarde
Um comportamento que bate de frente com os interesses de quem depende da Amazônia para produzir alimentos de forma legal.
“É do interesse do próprio agricultor ou produtor de gado ou de quem está querendo produzir energia que a floresta seja mantida. Porque ela é o que garante que tenha água necessária para essas atividades econômicas poderem existir”, diz o engenheiro florestal Tasso Azevedo.
Os gráficos do Inpe revelam que os desmatamentos na Amazônia já caíram aos níveis mais baixos das últimas duas décadas, mas ainda que tivessem sido completamente zerados, os cientistas não estariam tranquilos. Eles alertam que é preciso também reflorestar as áreas desmatadas antes que seja tarde.
“Existe um fato simples: se você tira floresta, você tira fonte de umidade, muda o clima. E nós tiramos floresta. Isso foi o que a gente fez nos últimos 40 anos. O clima é um juiz que sabe contar árvores, que não esquece e não perdoa”, afirma Antônio Nomes.
Sobre o assunto:
O que o desmatamento tem a ver com sua torneira
http://envolverde.com.br/ambiente/o-que-o-desmatamento-tem-ver-com-sua-torneira/
Proteger as florestas é produzir água
http://envolverde.com.br/ambiente/proteger-florestas-e-produzir-agua/
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por João Suassuna — Última modificação 02/09/2014 15:17
segunda-feira, 17 de novembro de 2014
NASCENTE DO SÃO FRANCISCO SECA
Rio, totalmente brasileiro, tem bacia hidrográfica que abrange 504 municípios e sete Estados.
Nascente principal do rio São Francisco completamente seca CORREIO DA PARAÍBA – Edição de 24/09/2014
São Paulo (Folha Press) – Pela primeira vez na história, a nascente do rio São Francisco, situada no Parque Nacional da Serra da Canastra, em Minas Gerais, está completamente seca.O acontecimento é simbólico, mas não significa, necessariamente, que o curso do rio será interrompido mais adiante.
“Não afeta todo o rio porque ele é muito grande, tem outros tributários que vão ajudando a mantê-lo. A gravidade maior é a seca. É uma questão simbólica”, diz o diretor do parque, Luiz Arthur Castanheira.
Segundo Castanheira, a falta de água na nascente do rio, que tem 2.700 quilômetros de extensão e atravessa seis Estados e o Distrito Federal, foi detectada por funcionários da universidade, que visitam o local diariamente. “O pessoal mais antigo aqui do parque está assustado (com a seca)”, diz.
O rio nasce a cerca de 1.200 metros de altitude, em um dos pontos mais altos do parque, que tem 200 mil hectares de área.
A água brota de diversos “olhos d´água” e pequenos riachos que formam a nascente do Velho Chico, como o rio é afetuosamente chamado.
“Se a nascente seca, (o rio) vai ficar com pouca água até o primeiro desaguar de outro rio (no São Francisco)”, explica o vice presidente co Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). Ele não soube dizer em que ponto isso ocorre.
A estiagem rigorosa não afeta somente a nascente. A represa de Três MARIAS (a 224 km de Belo Horizonte), a primeira do São Francisco, está com a vazão crítica (6%, apenas).
Segundo Soares, a vazão atual é de cerca de 60 m³/s, quando o esperado mesmo para épocas de estiagem é de 300 a 350 m³/s.
“Não choveu a quantidade esperada, mas há necessidade de manter a vazão para a energia elétrica, o que diminui o reservatório”, explica Soares. “Precisamos trabalhar com as pessoas e com as empresas para que seja feito o uso racional da água”.
De acordo com o Comitê, a previsão é que a situação seja normalizada com o aumento no volume de chuva em meados de outubro.
Chuva vai recuperar São Francisco
Comitê da Bacia Hidrográfica espera que período chuvoso, em outubro, acabe seca na nascente.
CORREIO DA PARAÍBA – Edição de 28/09/2014
Brasília (Abr) – A nascente principal do Rio São Francisco na Serra da Canastra, em Minas Gerais, que secou, tende a se recuperar com as chuvas previstas para a segunda quinzena de outubro. Segundo o vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Wagner Costa, a seca é provisória e a situação da nascente deve se normalizar com a chegada das chuvas.
Membros do Comitê reuniram-se na tarde de sexta-feira, em Belo Horizonte, para discutir o assunto. Segundo Costa, a longa estiagem reduziu a vazão nos diversos rios que abastecem a calha do São Francisco. “Com a volta das chuvas esperamos que a nascente retorne. Ela é considerada a nascente principal, só que não influencia como um todo, apenas naquele primeiro trecho do rio. E ela não está, em princípio, seca permanentemente. Havendo a infiltração da água, o lençol freático será abastecido”, explicou.
O diretor do Parque Nacional da Serra da Canastra, Luiz Arthur Castanheira, segue o mesmo raciocínio. “Com a seca, os pequenos córregos que formam a nascente, na região do parque, secaram. Agora é ficar de olho na previsão do tempo e esperar chover”, disse Castanheira. Ele destacou que outras nascentes continuam abastecendo o rio, que corre normalmente nos trechos mais baixos da nascente principal.
Mesmo acreditando que a situação tende a se normalizar com a chegada das chuvas, o CBHSF alerta para o uso da água, principalmente em regiões dependentes do rio. “Temos que fazer uma campanha pelo uso racional da água, é um assunto para agora. Em um primeiro momento, a vazão reduzida pode causar problemas com a biodiversidade. Com menos vazão, o rio reduz o ambiente para flora e fauna, e isso pode causar algum desequilíbrio biológico no futuro”, ressaltou Costa.
A reunião co Comitê também concluiu que certas providências são necessárias para preservar as nascentes e os lençóis freáticos que abastecem o São Francisco. O plantio de árvores às margens do rio e no alto dos morros e montanhas está entre as medidas recomendadas, assim como o uso adequado do solo, impedindo que a água da chuva escorra antes de ser absorvida pela terra.
Tais medidas ajudam a infiltração da água da chuva no solo, abastecendo os lençóis freáticos e, consequentemente, as nascentes. “O trabalho de revitalização do rio tem que ser constante, contínuo daqui para frente. É bom que haja um choque como este (nascente que secou) para que as pessoas tomem consciência e adotem uma atitude positiva de recuperação dos rios, usando a água com parcimônia”, afirmou Costa.
Sobre o assunto:
Diretor de parque diz que principal nascente do Rio São Francisco secou
http://www.remabrasil.org/Members/suassuna/campanhas/diretor-de-parque-diz-que-principal-nascente-do-rio-sao-francisco-secou/view
O São Francisco já é um rio intermitente, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)
http://www.remabrasil.org/Members/suassuna/artigos/o-sao-francisco-ja-e-um-rio-intermitente-artigo-de-roberto-malvezzi-gogo/view
Situação lamentável do São Francisco em Iguatama (MG)
"RIO SÃO FRANCISCO PASSADO E PRESENTE - IGUATAMA MG"
Rio Verde Grande secou.
https://www.youtube.com/watch?v=T-5GFGQj1Bo&feature=youtu.be
Situação volumétrica dos reservatórios das hidrelétricas da CHESF - 26/09/2014
http://www.remabrasil.org/Members/suassuna/campanhas/situacao-volumetrica-dos-reservatorios-das-hidreletricas-da-chesf-26-09-2014/view
Consequência da pior estiagem no Sudeste, nascente do Velho Chico está seca
http://www.remabrasil.org/Members/suassuna/campanhas/consequencia-da-pior-estiagem-no-sudeste-nascente-do-velho-chico-esta-seca/view
Hidrovia do São Francisco pode parar a qualquer momento
http://espaconoticiascomgilmardantas.blogspot.com.br/2011/08/hidrovia-do-sao-francisco-pode-parar.html
Solução da crise do Rio São Francisco não depende só de chuva
http://www.remabrasil.org/Members/suassuna/campanhas/solucao-da-crise-do-rio-sao-francisco-nao-depende-so-de-chuva
Rio São Francisco pode secar em um mês
http://www.remabrasil.org/Members/suassuna/campanhas/rio-sao-francisco-pode-secar-em-um-mes/view
Represa de Três Marias, no Norte de MG, está com 6% de seu volume útil
http://www.remabrasil.org/Members/suassuna/campanhas/represa-de-tres-marias-no-norte-de-mg-esta-com-6-de-seu-volume-util/view
SUPER FATURAMENTO em obras da transposição do Rio São Francisco
https://www.youtube.com/watch?v=qKkqgsqbjAo
Transposição do São Francisco Promessa sem Fim
https://www.youtube.com/watch?v=1wd0e5DJ65E
COMENTÁRIOS
João Suassuna – Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Recife
Com a exaustão da principal nascente do rio São Francisco, creio ser prematuro todo e qualquer juízo de valor que se faça a respeito do retorno do fluxo dessa nascente. Com a forte degradação ambiental existente naquela região, a chegada de novas chuvas, não garante, em absoluto, a infiltração da água no solo, e nem tampouco a volta da normalidade da nascente. Achei que a matéria em questão, trás consigo uma falta de sensibilidade em relação à gravidade da situação. O fato de dizer que a nascente não influencia o rio como um todo, mas apenas aquele primeiro trecho da sua bacia, e de que as outras nascentes e afluentes continuam abastecendo o rio São Francisco, não procede. Lembro que foi a primeira vez que essa exaustão ocorreu e, portanto, apenas um estudo mais detalhado, no local da nascente, pode vir a comprovar esse fato. O que o rio São Francisco está necessitando é de uma avaliação sistêmica e mais detalhada em toda a sua bacia hidrográfica. Tem-se, necessariamente, que se começar um estudo, que considere a exaustão da nascente principal do rio; passando pela situação deplorável em Iguatama (região próxima a sua nascente), onde o Velho Chico corre apenas com um filete de água; a interrupção dos fluxos do rio Verde Grande, um de seus principais afluentes; os baixos volumes acumulados na represa de Três Marias (apenas 6%); a possibilidade de, em Pirapora, se andar de bicicleta no leito seco do rio; a interrupção da hidrovia que transporta a produção de grãos da região, pela incapacidade de se navegar com embarcações de grade calado; a possibilidade de o Velho Chico interromper seu fluxo em um trecho de 40 km, a jusante de Três Marias; a impossibilidade de o projeto da transposição atender as demandas previstas para o abastecimento de 12 milhões de pessoas e para a irrigação de 350 mil ha no Setentrional nordestino que está sedento; os recordes históricos das afluências volumétricas do São Francisco, na represa de Sobradinho (chegou a atingir 330 m³/s) e os lançamentos volumétricos, de Sobradinho para o Sub-Médio e o Baixo São Francisco, de apenas 1.100 m³/s, contrariando uma determinação do IBAMA, que exige um volume mínimo, na foz do rio, de cerca de 1.300 m³/s. Temos que dar uma resposta à sociedade, a todas essas questões, e iniciar um programa verdadeiro de revitalização da bacia do rio, para que possamos entregar, às gerações futuras, um rio em condições de continuar fazendo jus ao nome que recebeu, de rio da integração nacional.
José do Patrocínio Tomaz Albuquerque - Hidrogeólogo e Consultor
Prezado João Suassuna.
Este assunto foi objeto de debate na ABRH-Gestão. Transcrevo aqui a minha mensagem com o diagnóstico que fiz sobre o tema:
“Já disse isso aqui: o grande e maior papel desempenhado pelas águas subterrâneas, contidas e emescoamento em Sistemas Aquíferos é assegurar a vazão de base de sistemas hidrográficos. No caso do Alto São Francisco, pelo menos até Pirapora, esta vazão é proveniente de sistema aquíferos pouco produtivos, uma vez que estão relacionados com rochas de baixa permeabilidade, como são as rochas constituintes dos grupos ou formações geológicas denominadas de Canastra, Três MARIAS e Bambuí, todas metamórficas e de idades Pré-Cambrianas (Período Proterozóico), em que pese a presença de algumas camadas de quartzitos (alguma permeabilidade) integrando os dois primeiros grupos, e de calcários metamorfisados (mármores), principal componente do Grupo Bambuí, dotado de permeabilidade cárstica, mas mal distribuída (heterogênea) no espaço, embora um pouco mais permeáveis . Em média, a vazão de base em Três Marias situa-se em torno de 317 m3/s, com um mínimo minimorum verificado no ano de 1971, mês de Julho (seca) de 58 m3/s (Freitas & Gondim Filho, 2004). Não é difícil perceber que, com a seca atual e com a exploração dos sistemas aquíferos por poços e, ainda, com o desmatamento, esta vazão tenha atingido valores inferiores a esse. No caso das nascentes do São Francisco (existe mais de uma), todas situadas no Grupo Canastra, constituinte cristalino da serra homônima, a vazão das mesmas se tornou nula pelas mesmas razões, influindo, também, ponderadamente, o desmatamento extensivamente praticado na bacia. Tudo isto significa que, enquanto não considerarem, na gestão de bacias hidrográficas e de reservatórios superficiais nelas construídos, o papel desempenhado pela vazão de base, os rios e suas bacias, sob a ocorrência de secas, cada vez mais severas, terão suas vazões reduzidas e, no extremo, os seus regimes hidrológicos alterados, ficando profundamente dependentes do regime das chuvas e de sua pluviometria. É isso, no meu entender, o que está ocorrendo. O uso do volume morto pode até resolver o problema das demandas múltiplas, socioeconômica e, principalmente, ambientais, por certo período, mas a solução da oferta segura passa, impreterivelmente, pelas relações hidrológicas entre as águas fluviais e suas vazões de base. Repor a cobertura vegetal e disciplinar a exploração das águas subterrâneas de forma a repor e não comprometer, respectivamente, quantitativa e qualitativamente, estas relações é imperativo de uma gestão sustentável”.
Adicionalmente, sou forçado a discordar da avaliação feita pelo vice-presidente do CBSF, Wagner Costa, segundo o qual “a situação da nascente deve se normalizar com a chegada das chuvas”. Não necessariamente. Isto vai depender do volume infiltrado nos aquíferos situados a montante, certamente afetados em sua capacidade de infiltração original, e da velocidade de circulação da água subterrânea no interior destes aquíferos. Não tenho dados sobre esta velocidade (produto da permeabilidade K com o gradiente hidráulico i, ou seja v = Ki). Mas, é uma velocidade muito pequena, algo em que K é da ordem de 10-3 m/dia e i se situando em torno dos 10-2 (admensional), do que resultaria uma velocidade de escoamento de, apenas, 10-5m/dia, ou seja, 0.01 mm/dia. Comparada com a velocidade do escoamento direto (diretamente dependente das chuvas), da ordem de m3/s, o fluxo de água subterrânea é muito lento e leva meses e até anos para ser reposto. Com o cessar das chuvas e anulação do escoamento direto (praticamente, isso se verifica ao cabo de algo como 2 a 3 dias), a fonte continuaria praticamente seca, uma vez que para repor uma vazão da ordem de 60 m3/s, se necessitaria de uma área de contribuição (frente de escoamento vezes espessura saturada) muito grande.
O que poderia melhorar a capacidade de infiltração afetada pelo DESMATAMENTO e ocupação do solo a montante, seria tomar medidas, além das citadas pelo Sr. Wagner Costa, para implantar o que em hidrogeologia se denomina de infiltração induzida. Esta consiste em retardar o escoamento direto da rede hidrográfica a montante das nascente, pela construção de valas ou de pequenos diques que aumentem o tempo de residência do escoamento direto, facilitando, com isso, o processo de infiltração.
Essa a minha avaliação.
Abraços,
Patrocínio
Roberto Malvezzi (Gogó) - Membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Bahia
Caro João,
Minha convicção é que não podemos olhar apenas o fato de secar a nascente...Esse fato só é compreensível dentro do processo...E o processo é de depredação contínua da bacia do São Francisco. A nascente rebrotar é provável...Improvável é que as autoridades e o mundo econômico mudem sua relação com a bacia do São Francisco, que mude de uma relação de exploração e esgotamento para o cuidado e a sustentabilidade.
Abs.
Gogó.
por João Suassuna — Última modificação 30/09/2014 10:16
NASCENTE DO SÃO FRANCISCO SECA
Rio, totalmente brasileiro, tem bacia hidrográfica que abrange 504 municípios e sete Estados.
Nascente principal do rio São Francisco completamente seca
CORREIO DA PARAÍBA – Edição de 24/09/2014
São Paulo (Folha Press) – Pela primeira vez na história, a nascente do rio São Francisco, situada no Parque Nacional da Serra da Canastra, em Minas Gerais, está completamente seca.
O acontecimento é simbólico, mas não significa, necessariamente, que o curso do rio será interrompido mais adiante.
“Não afeta todo o rio porque ele é muito grande, tem outros tributários que vão ajudando a mantê-lo. A gravidade maior é a seca. É uma questão simbólica”, diz o diretor do parque, Luiz Arthur Castanheira.
Segundo Castanheira, a falta de água na nascente do rio, que tem 2.700 quilômetros de extensão e atravessa seis Estados e o Distrito Federal, foi detectada por funcionários da universidade, que visitam o local diariamente. “O pessoal mais antigo aqui do parque está assustado (com a seca)”, diz.
O rio nasce a cerca de 1.200 metros de altitude, em um dos pontos mais altos do parque, que tem 200 mil hectares de área.
A água brota de diversos “olhos d´água” e pequenos riachos que formam a nascente do Velho Chico, como o rio é afetuosamente chamado.
“Se a nascente seca, (o rio) vai ficar com pouca água até o primeiro desaguar de outro rio (no São Francisco)”, explica o vice presidente co Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). Ele não soube dizer em que ponto isso ocorre.
A estiagem rigorosa não afeta somente a nascente. A represa de Três MARIAS (a 224 km de Belo Horizonte), a primeira do São Francisco, está com a vazão crítica (6%, apenas).
Segundo Soares, a vazão atual é de cerca de 60 m³/s, quando o esperado mesmo para épocas de estiagem é de 300 a 350 m³/s.
“Não choveu a quantidade esperada, mas há necessidade de manter a vazão para a energia elétrica, o que diminui o reservatório”, explica Soares. “Precisamos trabalhar com as pessoas e com as empresas para que seja feito o uso racional da água”.
De acordo com o Comitê, a previsão é que a situação seja normalizada com o aumento no volume de chuva em meados de outubro.
Chuva vai recuperar São Francisco
Comitê da Bacia Hidrográfica espera que período chuvoso, em outubro, acabe seca na nascente.
CORREIO DA PARAÍBA – Edição de 28/09/2014
Brasília (Abr) – A nascente principal do Rio São Francisco na Serra da Canastra, em Minas Gerais, que secou, tende a se recuperar com as chuvas previstas para a segunda quinzena de outubro. Segundo o vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Wagner Costa, a seca é provisória e a situação da nascente deve se normalizar com a chegada das chuvas.
Membros do Comitê reuniram-se na tarde de sexta-feira, em Belo Horizonte, para discutir o assunto. Segundo Costa, a longa estiagem reduziu a vazão nos diversos rios que abastecem a calha do São Francisco. “Com a volta das chuvas esperamos que a nascente retorne. Ela é considerada a nascente principal, só que não influencia como um todo, apenas naquele primeiro trecho do rio. E ela não está, em princípio, seca permanentemente. Havendo a infiltração da água, o lençol freático será abastecido”, explicou.
O diretor do Parque Nacional da Serra da Canastra, Luiz Arthur Castanheira, segue o mesmo raciocínio. “Com a seca, os pequenos córregos que formam a nascente, na região do parque, secaram. Agora é ficar de olho na previsão do tempo e esperar chover”, disse Castanheira. Ele destacou que outras nascentes continuam abastecendo o rio, que corre normalmente nos trechos mais baixos da nascente principal.
Mesmo acreditando que a situação tende a se normalizar com a chegada das chuvas, o CBHSF alerta para o uso da água, principalmente em regiões dependentes do rio. “Temos que fazer uma campanha pelo uso racional da água, é um assunto para agora. Em um primeiro momento, a vazão reduzida pode causar problemas com a biodiversidade. Com menos vazão, o rio reduz o ambiente para flora e fauna, e isso pode causar algum desequilíbrio biológico no futuro”, ressaltou Costa.
A reunião co Comitê também concluiu que certas providências são necessárias para preservar as nascentes e os lençóis freáticos que abastecem o São Francisco. O plantio de árvores às margens do rio e no alto dos morros e montanhas está entre as medidas recomendadas, assim como o uso adequado do solo, impedindo que a água da chuva escorra antes de ser absorvida pela terra.
Tais medidas ajudam a infiltração da água da chuva no solo, abastecendo os lençóis freáticos e, consequentemente, as nascentes. “O trabalho de revitalização do rio tem que ser constante, contínuo daqui para frente. É bom que haja um choque como este (nascente que secou) para que as pessoas tomem consciência e adotem uma atitude positiva de recuperação dos rios, usando a água com parcimônia”, afirmou Costa.
Sobre o assunto:
Diretor de parque diz que principal nascente do Rio São Francisco secou
http://www.remabrasil.org/Members/suassuna/campanhas/diretor-de-parque-diz-que-principal-nascente-do-rio-sao-francisco-secou/view
O São Francisco já é um rio intermitente, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)
http://www.remabrasil.org/Members/suassuna/artigos/o-sao-francisco-ja-e-um-rio-intermitente-artigo-de-roberto-malvezzi-gogo/view
Situação lamentável do São Francisco em Iguatama (MG)
"RIO SÃO FRANCISCO PASSADO E PRESENTE - IGUATAMA MG"
Rio Verde Grande secou.
https://www.youtube.com/watch?v=T-5GFGQj1Bo&feature=youtu.be
Situação volumétrica dos reservatórios das hidrelétricas da CHESF - 26/09/2014
http://www.remabrasil.org/Members/suassuna/campanhas/situacao-volumetrica-dos-reservatorios-das-hidreletricas-da-chesf-26-09-2014/view
Consequência da pior estiagem no Sudeste, nascente do Velho Chico está seca
http://www.remabrasil.org/Members/suassuna/campanhas/consequencia-da-pior-estiagem-no-sudeste-nascente-do-velho-chico-esta-seca/view
Hidrovia do São Francisco pode parar a qualquer momento
http://espaconoticiascomgilmardantas.blogspot.com.br/2011/08/hidrovia-do-sao-francisco-pode-parar.html
Solução da crise do Rio São Francisco não depende só de chuva
http://www.remabrasil.org/Members/suassuna/campanhas/solucao-da-crise-do-rio-sao-francisco-nao-depende-so-de-chuva
Rio São Francisco pode secar em um mês
http://www.remabrasil.org/Members/suassuna/campanhas/rio-sao-francisco-pode-secar-em-um-mes/view
Represa de Três Marias, no Norte de MG, está com 6% de seu volume útil
http://www.remabrasil.org/Members/suassuna/campanhas/represa-de-tres-marias-no-norte-de-mg-esta-com-6-de-seu-volume-util/view
SUPER FATURAMENTO em obras da transposição do Rio São Francisco
https://www.youtube.com/watch?v=qKkqgsqbjAo
Transposição do São Francisco Promessa sem Fim
https://www.youtube.com/watch?v=1wd0e5DJ65E
COMENTÁRIOS
João Suassuna – Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Recife
Com a exaustão da principal nascente do rio São Francisco, creio ser prematuro todo e qualquer juízo de valor que se faça a respeito do retorno do fluxo dessa nascente. Com a forte degradação ambiental existente naquela região, a chegada de novas chuvas, não garante, em absoluto, a infiltração da água no solo, e nem tampouco a volta da normalidade da nascente. Achei que a matéria em questão, trás consigo uma falta de sensibilidade em relação à gravidade da situação. O fato de dizer que a nascente não influencia o rio como um todo, mas apenas aquele primeiro trecho da sua bacia, e de que as outras nascentes e afluentes continuam abastecendo o rio São Francisco, não procede. Lembro que foi a primeira vez que essa exaustão ocorreu e, portanto, apenas um estudo mais detalhado, no local da nascente, pode vir a comprovar esse fato. O que o rio São Francisco está necessitando é de uma avaliação sistêmica e mais detalhada em toda a sua bacia hidrográfica. Tem-se, necessariamente, que se começar um estudo, que considere a exaustão da nascente principal do rio; passando pela situação deplorável em Iguatama (região próxima a sua nascente), onde o Velho Chico corre apenas com um filete de água; a interrupção dos fluxos do rio Verde Grande, um de seus principais afluentes; os baixos volumes acumulados na represa de Três Marias (apenas 6%); a possibilidade de, em Pirapora, se andar de bicicleta no leito seco do rio; a interrupção da hidrovia que transporta a produção de grãos da região, pela incapacidade de se navegar com embarcações de grade calado; a possibilidade de o Velho Chico interromper seu fluxo em um trecho de 40 km, a jusante de Três Marias; a impossibilidade de o projeto da transposição atender as demandas previstas para o abastecimento de 12 milhões de pessoas e para a irrigação de 350 mil ha no Setentrional nordestino que está sedento; os recordes históricos das afluências volumétricas do São Francisco, na represa de Sobradinho (chegou a atingir 330 m³/s) e os lançamentos volumétricos, de Sobradinho para o Sub-Médio e o Baixo São Francisco, de apenas 1.100 m³/s, contrariando uma determinação do IBAMA, que exige um volume mínimo, na foz do rio, de cerca de 1.300 m³/s. Temos que dar uma resposta à sociedade, a todas essas questões, e iniciar um programa verdadeiro de revitalização da bacia do rio, para que possamos entregar, às gerações futuras, um rio em condições de continuar fazendo jus ao nome que recebeu, de rio da integração nacional.
José do Patrocínio Tomaz Albuquerque - Hidrogeólogo e Consultor
Prezado João Suassuna.
Este assunto foi objeto de debate na ABRH-Gestão. Transcrevo aqui a minha mensagem com o diagnóstico que fiz sobre o tema:
“Já disse isso aqui: o grande e maior papel desempenhado pelas águas subterrâneas, contidas e emescoamento em Sistemas Aquíferos é assegurar a vazão de base de sistemas hidrográficos. No caso do Alto São Francisco, pelo menos até Pirapora, esta vazão é proveniente de sistema aquíferos pouco produtivos, uma vez que estão relacionados com rochas de baixa permeabilidade, como são as rochas constituintes dos grupos ou formações geológicas denominadas de Canastra, Três MARIAS e Bambuí, todas metamórficas e de idades Pré-Cambrianas (Período Proterozóico), em que pese a presença de algumas camadas de quartzitos (alguma permeabilidade) integrando os dois primeiros grupos, e de calcários metamorfisados (mármores), principal componente do Grupo Bambuí, dotado de permeabilidade cárstica, mas mal distribuída (heterogênea) no espaço, embora um pouco mais permeáveis . Em média, a vazão de base em Três Marias situa-se em torno de 317 m3/s, com um mínimo minimorum verificado no ano de 1971, mês de Julho (seca) de 58 m3/s (Freitas & Gondim Filho, 2004). Não é difícil perceber que, com a seca atual e com a exploração dos sistemas aquíferos por poços e, ainda, com o desmatamento, esta vazão tenha atingido valores inferiores a esse. No caso das nascentes do São Francisco (existe mais de uma), todas situadas no Grupo Canastra, constituinte cristalino da serra homônima, a vazão das mesmas se tornou nula pelas mesmas razões, influindo, também, ponderadamente, o desmatamento extensivamente praticado na bacia. Tudo isto significa que, enquanto não considerarem, na gestão de bacias hidrográficas e de reservatórios superficiais nelas construídos, o papel desempenhado pela vazão de base, os rios e suas bacias, sob a ocorrência de secas, cada vez mais severas, terão suas vazões reduzidas e, no extremo, os seus regimes hidrológicos alterados, ficando profundamente dependentes do regime das chuvas e de sua pluviometria. É isso, no meu entender, o que está ocorrendo. O uso do volume morto pode até resolver o problema das demandas múltiplas, socioeconômica e, principalmente, ambientais, por certo período, mas a solução da oferta segura passa, impreterivelmente, pelas relações hidrológicas entre as águas fluviais e suas vazões de base. Repor a cobertura vegetal e disciplinar a exploração das águas subterrâneas de forma a repor e não comprometer, respectivamente, quantitativa e qualitativamente, estas relações é imperativo de uma gestão sustentável”.
Adicionalmente, sou forçado a discordar da avaliação feita pelo vice-presidente do CBSF, Wagner Costa, segundo o qual “a situação da nascente deve se normalizar com a chegada das chuvas”. Não necessariamente. Isto vai depender do volume infiltrado nos aquíferos situados a montante, certamente afetados em sua capacidade de infiltração original, e da velocidade de circulação da água subterrânea no interior destes aquíferos. Não tenho dados sobre esta velocidade (produto da permeabilidade K com o gradiente hidráulico i, ou seja v = Ki). Mas, é uma velocidade muito pequena, algo em que K é da ordem de 10-3 m/dia e i se situando em torno dos 10-2 (admensional), do que resultaria uma velocidade de escoamento de, apenas, 10-5m/dia, ou seja, 0.01 mm/dia. Comparada com a velocidade do escoamento direto (diretamente dependente das chuvas), da ordem de m3/s, o fluxo de água subterrânea é muito lento e leva meses e até anos para ser reposto. Com o cessar das chuvas e anulação do escoamento direto (praticamente, isso se verifica ao cabo de algo como 2 a 3 dias), a fonte continuaria praticamente seca, uma vez que para repor uma vazão da ordem de 60 m3/s, se necessitaria de uma área de contribuição (frente de escoamento vezes espessura saturada) muito grande.
O que poderia melhorar a capacidade de infiltração afetada pelo DESMATAMENTO e ocupação do solo a montante, seria tomar medidas, além das citadas pelo Sr. Wagner Costa, para implantar o que em hidrogeologia se denomina de infiltração induzida. Esta consiste em retardar o escoamento direto da rede hidrográfica a montante das nascente, pela construção de valas ou de pequenos diques que aumentem o tempo de residência do escoamento direto, facilitando, com isso, o processo de infiltração.
Essa a minha avaliação.
Abraços,
Patrocínio
Roberto Malvezzi (Gogó) - Membro da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Bahia
Caro João,
Minha convicção é que não podemos olhar apenas o fato de secar a nascente...Esse fato só é compreensível dentro do processo...E o processo é de depredação contínua da bacia do São Francisco. A nascente rebrotar é provável...Improvável é que as autoridades e o mundo econômico mudem sua relação com a bacia do São Francisco, que mude de uma relação de exploração e esgotamento para o cuidado e a sustentabilidade.
Abs.
Gogó.
por João Suassuna — Última modificação 30/09/2014 10:16
COM NASCENTE SECA, RIO SÃO FRANCISCO AGONIZA EM PIRAPORA (MG)
Photo Project Shows The Culture And Counterculture Changes Of Women In The Past 100 Years | BuzzWok.com | The Best Buzzing Stories Frying In One Place (Buzzwok)
Em Pirapora, município cravado no meio Norte de Minas Gerais e um dos mais belos trechos do rio, o leito do São Francisco está em filetes d’água há semanas – em alguns trechos praticamente secou, conforme revelam fotos enviadas por leitores.
http://colunaesplanada.blogosfera.uol.com.br/2014/10/02/com-nascente-seca-rio-sao-francisco-agoniza-em-pirapora/
Leandro Mazzini
02/10/2014 10:30
Fotos de Aparício Mansur
Além da estiagem, e da notícia preocupante da seca na nascente ( lembre aqui ), há fatores agravantes como assoreamento e poluição. Em alguns pontos debaixo das duas pontes na cidade, atravessa-se a pé onde havia forte correnteza.
Pirapora fica a 500 km do Parque Nacional da Serra da Canastra, a nascente do rio.
Atualização quinta, 2, 16h – Ao ler esta notícia, o engenheiro ambiental Jurandir Lima, de São Paulo, enviou mais fotos de recente excursão que fez pela rota do Rio Chico, confirmando a grave situação do leito – quando há.
“No ano de 2000 realizei uma expedição percorrendo todo o Rio São Francisco, desde a nascente até a foz, no Atlântico. No ano de 2002 iniciei minhas pesquisas sobre o Grande Sertão: Veredas, tão bem descrito pelo Guimarães Rosa, e, desde então, retorno à região todos os anos'', diz Lima, que refez o roteiro semana passada e conferiu de perto a situação calamitosa do percurso, em especial Três Marias, Pirapora e Januária.
“Nunca vi o 'Velho Chico' tão seco quanto desta vez. A situação é de doer o coração. Em Três Marias, conversei com seu Norberto dos Santos – pescador que mora às margens do Rio, há 55 anos – que afirmou nunca ter visto o rio desta maneira (a represa de Três Marias está com apenas 6% da sua capacidade de armazenamento e, se chegar a 4%, vai parar de gerar energia elétrica).
Em Várzea da Palma, município entre Três Marias e Pirapora, o engenheiro ambiental lembra que cruzou um riacho afluente do São São Francisco que simplesmente secou. “Conversei com seu Gerson Gonçalves – 80 anos, morador local desde que nasceu – e disse que 05 vacas do seu rebanho já morreram pela seca''.
Neste link, um documentário de Jurandir com o cineasta Silvio Tendler sobre a rota de Grande Sertão, Veredas.
Imagem mostra o alto banco de areia no leito seco do rio Chico, em Pirapora – em situação normal, toda esta área estaria alagada. Fotos de Jurandir Lima
Leito de riacho afluente do rio Chico secou em Várzea de Palma, município próximo a Pirapora.
COMENTÁRIOS
João Suassuna - Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, Recife
O que já vinha sendo anunciado, vazia tempo, aconteceu: o Velho Chico secou na região de Pirapora (MG). Creio que é cegada a hora de começarmos a cobrar das autoridades responsáveis pela implantação do projeto da Transposição de suas águas, uma explicação sensata para esse trágico acontecimento, tendo em vista a existência, na região setentrional nordestina, de alternativas de abastecimento do povo, mais viáveis, não só no caráter técnico, mas, e principalmente, no econômico. Imposta a transposição goela abaixo do povo nordestino, a situação de penúria hídrica pela qual passa o rio da Integração Nacional, fará com que esse projeto seja encarado como troféu de incompetência do atual governo, no trato das questões ambientais do país, cujo rio São Francisco estava sendo protagonista do maior programa hídrico/ambiental da América LATINA , bancado com recursos do cidadão brasileiro. Com a palavra o Governo do meu País!
por João Suassuna — Última modificação 02/10/2014 17:17
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