terça-feira, 13 de março de 2012

ÁGUAS: POLUIÇÃO.

"Águas poluídas aumentam doenças na Paraíba.

As águas do Rio São Francisco têm qualidade duvidosa para fins de abastecimento. Em Petrolina (PE), através de análises periódicas realizadas pela Compesa, os índices de coliformes fecais existentes no rio têm impossibilitado o petrolinense, com certa freqüência, a tomar banho em suas águas. Na Paraíba, o destino da transposição do Velho Chico é o abastecimento da população residente na bacia do Rio Paraíba, a qual, segundo a matéria do Correio da Paraíba, já se encontra com graves problemas ambientais, principalmente de poluição. Seguramente, teremos uma situação agravada naquela região.
João Suassuna
Esgotos, lixo jogado nos rios e resíduos de agrotóxicos e indústrias envenenam o patrimônio ambiental.
CORREIO DA PARAÍBA – 11/03/2012
Celina Modesto
A poluição das águas é um dos principais desafios que se apresentam aos ambientalistas que discutirão formas de prevenção e controle do problema durante a conferência Rio+20 este ano. Na Paraíba, cada vez mais os rios, manguezais, açudes e praias sofrem a contaminação por abusos como despejos de esgotos, lançamento de resíduos tóxicos, lixo e falta de projetos que viabilizem as áreas degradadas. O alerta atual é que as agressões à natureza estão interferindo – e de forma mais drástica – na saúde e qualidade de vida dos paraibanos.
Hoje, por causa dos danos aos biomas aquáticos, quem vive no Estado está sujeito a doenças como infecções, por causa de rios com águas contaminadas como o Jaguaribe, ou problemas de pele durante um banho numa praia imprópria da Capital. Em açudes, se não houver o devido cuidado com poluentes como esgotos e fertilizantes, a oferta de nutrientes aumenta a poluição de algas, que contaminam a água com toxinas que podem causar enjôos e até insuficiência hepática em quem a consome.
Ficou tão comum achar tartarugas mortas na praia (somente este ano já foram cerca de 40, segundo a ONG Guajiru), quanto ouvir pescadores reclamando do desaparecimento de peixes e no sustento de famílias inteiras. Aliás, especialistas apontam que o caranguejo-uçá pode desaparecer em algumas décadas, assim como o tubarão-lixa e o peixe neon. No entanto, medidas como a criação de comitês de bacias hidrográficas, a ampliação da oferta da rede de esgotamento sanitário e alternativas como o turismo ecológico em rios podem ser os caminhos para solucionar o problema da poluição nos biomas aquáticos na Paraíba.
Rio Paraíba sofre com degradação – ocupação desordenada, lançamento de poluentes e até o lixão do Róger contribui para deterioração ambiental.
Os 24 quilômetros de extensão do estuário do Rio Paraíba, localizado no Baixo Curso, estão degradados. Local de encontro entre o rio e o mar, que se estende da cidade de Bayeux até Lucena, passando pó João Pessoa e Santa Rita, ele sofre com a ocupação desordenada do solo, especulação imobiliária, lançamento de poluentes industriais e residenciais, principalmente nos rio Sanhauá e Mandacaru, viveiros de camarões e agroindústria canavieira. Até o lixão do Róger, desativado em 2003, contribui para a deterioração ambiental do rio.
“Ocupações irregulares às margens do Rio Paraíba, em Santa Rita, destroem a mata ciliar e poluem o manancial”
O Paraíba, o mais importante da bacia hidrográfica do rio Paraíba, que beneficia 85 municípios do Estado e abrange uma área total de 20.071,83 km², possui pontos de poluição no Alto e Médio Cursos. No Alto Curso, o rio recebe o lançamento de esgotos coletados no canal de Monteiro, segundo aponta o geógrafo Giovanni Seabra. Ele explicou que os resíduos de agrotóxicos e fertilizantes utilizados na agroindústria contribuem para a poluição, como as plantações de cana de açúcar em Forte Velho, Santa Rita. “Neste caso, o terreno tem um declive bastante acentuado, que leva os poluentes da monocultura canavieira para o rio. O defensivo químico e o fertilizante contém metais pesados como o chumbo e o alumínio, que contaminam o rio. O fertilizante, em especial, possui o nitrogênio, que em grande quantidade contribui para a morte de peixes. O que pode ser feito é controlar o uso de defensivos químicos e o lançamento de dejetos urbanos e industriais no rio”, explica. “O lixão deveria ter dado lugar ao Parque Ambiental do Róger, só que nada foi feito e o local ainda sofre com a poluição do lixo jogado ali por 40 anos. Seria preciso pelo menos 10 anos de tratamento para retirar os gases e os metais pesados do solo do lixão, que pela proximidade com o mangue do Rio Sanhauá, que é afluente do Rio Paraíba, acaba por ser mais uma fonte de poluição”, explicou.
Bacias hidrográficas da Paraíba – Localização e problemas
1 – Rio Piranhas - Açu
Bacia federal que compreende os estados da PB e RN
Área total 43.681,50 km²
PB 26.183,00 km²
RN 17.498,50 km²
Municípios beneficiados 147 (PB 102 e RN 45)
Principais Rios:
Na PB: Piranhas (Rio do Peixe, Rio Piancó, Rio Espinharas e Rio Seridó) e (Alto e MédioPiranhas)
No RN é o Rio Açu
Principais problemas:
Algas potencialmente tóxicas no Açude Coremas/Mãe D´água (PB);
Esgotos;
Uso de fertilizantes;
Efeitos prováveis para quem beber a água(enjôos e insuficiência hepática);
2 – Rio Paraíba
Área Total 20.071,83 km²
Municípios beneficiados 85
Principais Rios:
Rio Taperoá e Rio Paraíba (dividido em três regiões: Alto, Médio e Baixo Curso)
Principais problemas:
Esgotos coletados pelo canal de Monteiro na nascente do rio
Lixo urbano
Dejetos das cidades situadas nas margens do rio;
Chorume do antigo lixão do Róger;
Desmatamento de suas margens;
Queima da cobertura vegetal;
Retirada de areia
Poluição do mangue do Rio Sanhauá, que tem ligação com o estuário do Rio Paraíba.
3 – Rio Mamanguape
Área Total 3.525,00 km²
Municípios beneficiados 41
Principais Rios:
Rio Mamanguape, rios Guariba, Guandu, Araçagí, Saquaíba e riacho Bloqueio)
Principais problemas:
Esgotos;
Resíduos sólidos;
Poluição por agrotóxicos e adubação
4 – Rio Curimataú
Bacia de domínio federal.
Comprimento 80 km
Área total 4.070,71 km²
Municípios beneficiados 23
PB 19
RN 04
Principal Rio:
Rio Curimataú
Principais problemas:
Desmatamento da vegetação ciliar;
Assoreamento;
Ocupação irregular próxima a açudes.
5 – Rio Jacu
Bacia de domínio federal
Comprimento 45 km
Área total 2.626,50 km²
Municípios beneficiados 12
PB 07
RN 05
Principal Rio:
Rio Jacu
Principais problemas:
Desmatamento da vegetação ciliar;
Assoreamento.
6 – Rio Miriri
Área total 436,59 km²
Municípios beneficiados 09
Principal Rio:
Rio Miriri
Principais problemas:
Esgotos;
Resíduos sólidos;
Poluição por agrotóxicos e adubação.
7 – Rio Gramame
Área total 589,10 km²
Municípios beneficiados 06
Principais Rios:
Rio Gramame, com contribuições dos rios Mumbaba e Mamuaba.
Principais problemas:
Indústrias e agroindústrias que usam vinhoto na fertirrigação;
Áreas críticas, como o riacho Mussuré, por atravessar o Distrito Industrial.
8 – Rio Abiaí
Área total 449,50 km²
Municípios beneficiados 03
Principais Rios:
Rio Abiaí, com contribuições dos rios Taperubus, Cupissura e o riacho Pitanga.
Principais problemas:
Esgotos;
Resíduos sólidos;
Poluição por agrotóxicos e adubação.
9 – Rio Guaju
Bacia de domínio federal
Comprimento 10 km
Área total 316,03 km²
Municípios beneficiados:
PB 01
RN 03
Principal Rio:
Rio Guaju
Principais problemas:
Desmatamento da vegetação ciliar
Assoreamento;
Ocupação irregular próxima a açudes.
10 – Rio Camaratuba
Área total 635,60 km²
Municípios beneficiados 13
Principal Rio:
Rio Camaratuba
Principais problemas:
Esgotos;
Resíduos sólidos;
Poluição por agrotóxicos e adubação
11 – Rio Trairi
Bacia de domínio federal
Comprimento 20 km
Área total 106,30 km²
Municípios beneficiados:
PB 02
RN 02
Principal Rio:
Rio Trairi
Principais problemas:
Desmatamento da vegetação ciliar;
Assoreamento;
Ocupação irregular próxima a açudes.
Algas tóxicas aumentam em açudes – fertilizantes e ração para peixes ajudam na proliferação de cianobactérias que levam à insuficiência hepática
O lançamento de esgoto doméstico, o uso de fertilizantes na agricultura e a ração utilizada para o cultivo de peixes em tanques-rede são fatores que aumentam a quantidade de nutrientes como o fósforo, em açudes. O fósforo é um dos alimentos essenciais das algas e, em excesso, torna o ambiente ideal para a proliferação delas, dentre as quais as do grupo de cianobactérias, que são potencialmente tóxicas quando estão em grande quantidade.
“Estas algas normalmente não são tóxicas, mas, em excesso, elas podem liberar toxinas e prejudicar não somente a saúde de quem consome a água, mas também atividades como a pesca e a agropecuária. Estas toxinas podem provocar desde enjôos até insuficiência”, explicou o gerente de estudos e levantamentos da Agência Nacional de Águas (ANA), Marcelo Pires.
“Além disso, elas demandam grande quantidade de oxigênio, causando o desequilíbrio ecológico do açude. Vi estudos que apontaram a presença delas tanto no complexo de Coremas/Mãe D´água, que abastece o Rio Piranhas, como o reservatório Armando Ribeiro Gonçalves, que fica no Rio Grande do Norte. Para evitar a proliferação destas algas, é importante tratar o esgoto, uma demanda do País inteiro, bem como controlar o uso de fertilizantes”, afirmou Marcelo Pires.
“Esgotos clandestinos, lixos e desmatamentos são os principais problemas da população ribeirinha”
A técnica da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Sudema), Andrea Fidele, afirmou qua a quantidade da água do Açude Coremas/Mãe D´água é considerada boa para o consumo. “De acordo com os resultados da última medição que realizamos do açude foram consideradas boas para o consumo, com um índice de Qualidade da Água (IQA) de 75. O índice não avalia se há presença de algas que podem liberar toxinas, mas, à priori, não identificamos mudanças na qualidade da aguado açude que pudesse ter sido causada pela existência dessas algas”, afirmou.
Com a criação do comitê da bacia hidrográfica do Piranhas-Açu em 2009, o gerente Marcelo Pires acredita que os problemas serão combatidos de forma concreta. “A ANA vai contratar uma empresa para elaborar um plano de recursos hídricos da bacia do Piranhas-Açu. O plano fará um diagnóstico da bacia, apontando os principais problemas. Os estudos serão feitos durante 15 meses e todos, desde empresas até a sociedade civil, serão ouvidos em audiências públicas para decidir a solução mais apropriada oara melhorar a situação da bacia. O comitê será responsável por promover as audiências e monitorar o andamento das ações, assim como estipular metas para o cumprimento das ações. Então, as perspectivas são boas”, afirmou Marcelo Pires.
Jaguaribe pode ser recuperado
“O Rio Jaguaribe tem salvação”. A afirmação é da secretária do Meio Ambiente do município de João Pessoa (Semam), Lígia Tavares sobre um dos rios mais poluídos da Capital e que é um dos afluentes do Rio Paraíba. Com 21 km de extensão, o Rio Jaguaribe recebe esgotos domésticos lançados “in natura” por praticamente todo o comprimento, com destaque para os trechos onde há comunidades ribeirinhas, como o Chatuba/São José, São Rafael, Padre Hildon Bandeira, Vale das Palmeiras e Nova Esperança. “O rio não está completamente morto. Ele faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que prevê a drenagem e a limpeza do rio, além da realocação das famílias ribeirinhas. Por estar numa cidade com 30% do território de Mata Atlântica, é possível restaurá-lo”, declarou.
A Secretaria enumerou três problemas do Rio Jaguaribe: esgotos clandestinos, lixos e desmatamento das margens do rio. O biólogo da Semam, Cláudio Almeida, ainda lembrou que a ocupação irregular das margens do rio Jaguaribe é a principal causa das enchentes em períodos chuvosos. Entretanto, o trecho do Rio Jaguaribe que atravessa a mata do Buraquinho não foi totalmente afetado pela poluição.
5 espécies podem desaparecer
A poluição do litoral paraibano altera a vida marinha de tal maneira que, numa média de 20 anos, espécies ameaçadas de extinção podem vir a desaparecer. As espécies que correm esse risco no Estado são a sardinha, os peixes mero, neon e loreto e o tubarão-lixa, segundo o biólogo marinho Ricardo Rosa. Além da poluição dos mares, à qual as espécies são bastante sensíveis, existe o problema da exploração para o consumo, especialmente no caso do caranguejo e da sardinha, espécies bastante consumidas pelo paraibano. Dados do Ministério do Meio Ambiente apontam que 26 espécies marinhas estão ameaçadas de extinção na Paraíba.
Sobre as espécies que podem desaparecer dos mares do Estado, Ricardo Rosa declarou que se trata de uma estimativa razoável. “A extinção local pode não ser definitiva, ou seja, as espécies podem recolonizar o litoral desde que haja outros lugares, chamados áreas fonte, em que ainda estejam preservadas. O desaparecimento em 20 anos é uma estimativa de instituições que pesquisam sobre o risco de extinção de espécies, tanto em âmbito global como regional”, explicou. Sobre a população de caranguejos, o biólogo confirmou a possibilidade de desaparecimento da espécie em questão de décadas. “O caranguejo é um animal bastante sensível à poluição e à exploração e, em algumas décadas, a espécie pode desaparecer. Não há o controle da captura do caranguejo, então, a população pode diminuir drasticamente, como já aconteceu há cerca de cinco anos.
Atividade pesqueira prejudicada
“Já pesquei 200 kg de camarão no Porto do Capim”. A declaração foi do pescador da comunidade de Livramento, Edmilson Ventura, que pesca desde os dez anos de idade e, no mês passado, completou 53 anos na atividade. “Eu peco peixe, caranguejo, siri, camarão e marisco. Tenho que pescar tudo o que a maré oferece porque a quantidade de peixes e camarões vem diminuindo por causa dos viveiros de camarão que tem no rio. Hoje em dia pesco 30 kg de camarão e entre 40 kg e 60 kg de peixes. Antigamente, em todos os mangues a ambulância era grande, mas hoje a poluição tomou conta”, contou. Com a pesca, Edmilson conseguiu sustentar a família. “Tenho nove filhos e foi assim que criei todos. Nunca fiz outra coisa na minha vida a não ser pescar e tenho muito orgulho disso. Saio para pescar três vezes por semana e sempre vendo o que consigo pegar na maré”, afirmou.
Turismo cria 300 empregos diretos
As comunidades reibeirinhas de Costinha, Forte Velho e Livramento, em Santa Rita, se inseridas num projeto turístico comunitário, criariam pelo menos 300 empregos diretos num prazo de cerca de um ano, segundo contabilizou o geógrafo. O dono do bar e restaurante Forte Velho, Antônio Elias Pessoa, afirmou que a história do local se confunde com a da Paraíba. “Forte Velho tem um valor histórico imenso e isso está se perdendo porcausa da falta de investimento. Hoje, o forte está em ruínas e o aceso até aqui não é dos melhores. As estradas são de barro e, pelo rio, a travessia não tem uma infraestrutura adequada para o turismo”, contou.
Um dos responsáveis pelo trajeto fluvial de Forte Velho, Benjamin Pessoa, afirmou que, nos fins de semana de verão, a comunidade chega a receber mil pessoas. “No verão, recebemos até 300 pessoas em dias de semana e, nos fins de semana, de 800 a mil pessoas. Infelizmente, a infraestrutura para receber o turista é precária e, depois do verão, os bares ficam no vermelho porque ninguém vem aqui e não há nenhum incentivo para a região, que é muito bonita”, afirmou."
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por João Suassuna — Última modificação 13/03/2012 09:47

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